(FOLHAPRESS) – Esta terça-feira marca exatos 40 anos da morte de John Lennon. O ex-beatle foi morto a tiros em Nova York na noite de 8 de dezembro de 1980, diante do prédio em que morava. A data reacende discussões sobre o assassinato do cantor, mas sua figura pública não merecia um livro como este que acaba de chegar às lojas.
“Quem Matou John Lennon? – As Vidas, os Amores e Mortes do Maior Astro do Rock” nem chega a justificar seu título sensacionalista. Todo mundo sabe que Lennon foi morto por Mark Chapman, um maluco de plantão que segue cumprindo pena de prisão perpétua.
O único elogio possível para a jornalista britânica Leslie-Ann Jones é ressaltar que pelo menos ela não embarcou na maior das teorias de conspiração sobre a morte de Lennon. Para meia dúzia de loucos, o assassinato teria sido encomendado pela CIA, que durante anos investigou a presença do artista em Nova York. Supostamente preocupada com a influência agitadora do ídolo, a agência americana teria feito uma lavagem cerebral em Chapman para que ele executasse o cantor. Difícil encontrar quem acredite nisso.
De resto, a autora elenca todas as fofocas que foram produzidas a respeito da vida de Lennon. Uma pesquisa atenta na internet poderia mostrar o mesmo resultado, não há nada de novo nos relatos. Com três décadas de atuação na imprensa britânica, Jones trabalhou no tabloide The Sun, verdadeira Bíblia mundial para o jornalismo sensacionalista. Antes de se dedicar a Lennon, ela lançou uma biografia de Freddie Mercury, na qual tentou chamar atenção com detalhes da vida sexual do cantor do Queen.
Em “Quem Matou John Lennon?”, o foco recai muito sobre as relações amorosas e sexuais, numa insistente exploração de possíveis ligações homossexuais.
O livro parece escrito no futuro do pretérito. Lennon teria tido um caso com o empresário dos Beatles, Brian Epstein? Teria tido relações com David Bowie? Teria tido um caso com Elton John? Com Mick Jagger? Seria a cantora britânica Alma Cogan, morta precocemente em 1966, o grande amor de Lennon antes de conhecer Yoko Ono? A reclusão como “dono de casa” no final dos anos de 1970 teria sido uma jogada de Lennon para criar uma nova persona pública em sua carreira musical? Ono teria um amante antes da morte do cantor?
Jones apresenta todas essas suposições, incluindo uma hipotética relação física do garoto John com a própria mãe, para em seguida admitir que não há provas em nenhuma delas. Esse recurso se repete até cansar o leitor. Mas a coisa piora quando a escritora procura explicações sobre o comportamento de Lennon.
Por conta própria, ela desenvolve discussões rasas, como uma ginasiana comparação entre os efeitos das mortes de John Kennedy, de John Lennon e da princesa Diana em gerações diferentes de admiradores.
Ao narrar vários outros episódios da vida do biografado, ela convoca alguns psicanalistas para tecer análises sobre as atitudes de Lennon. Além de a maioria das declarações serem rudimentares, psicologicamente falando, esses especialistas são citados sem a menor preocupação em apresentar suas credenciais. É apenas “doutor fulano”, “doutor beltrano”, e nada mais que justifique as condições para que esses sujeitos contribuam de alguma forma para a composição da personalidade do cantor.
Jones ficou amiga de Cynthia, primeira mulher de Lennon e mãe de seu primogênito, Julian. Elas foram apresentadas por Linda McCartney, que tinha pedido ajuda à jornalista para escrever uma autobiografia. Seria chamada “Mac the Wife”, mas nunca foi lançada. Linda desistiu no meio do projeto a pedido de Paul McCartney.
É de conhecimento público que o casamento de John e Cynthia teve muitas atribulações. Mas a autora toma as dores da amiga de forma exagerada. Lennon é tratado como um calhorda. Jones chega a usar duas vezes a expressão “John agiu mal com Cynthia”, numa opinião assertiva pouco justificável, como muitas vezes as pessoas emitem sobre a intimidade de outros casais.
Chega a ser lamentável que Jones insista nessas opções sensacionalistas, porque seu livro traz muita gente falando sobre a vida do biografado, com muita informação interessante, principalmente no período que antecedeu o sucesso dos Beatles. Mas a narrativa é confusa, muitas vezes vai e volta no tempo sem preocupações didáticas com o leitor.
Para lembrar os 40 anos da morte – ou talvez presentear um amigo beatlemaníaco no Natal – há muitas biografias do ídolo no mercado. “Quem Matou John Lennon?” não entra na galeria das melhores opções.
Cultura
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