Internacional
Quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Trump reforça negacionismo, indica ida a debate e vê Biden subir nas pesquisas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um dia depois de transformar uma alta hospitalar em espetáculo midiático, o presidente Donald Trump mostrou outra vez que a infecção por coronavírus não abalou nem abalará seu discurso negacionista.
Nesta terça (6), a mensagem postada ainda do hospital, segundo a qual os americanos não devem ter “medo da Covid”, ganhou reforço com a versão 2.0 da narrativa de que o vírus é uma “gripezinha”.
No Twitter, o republicano escreveu que “muitas pessoas, todos os anos, às vezes mais de 100 mil, morrem por causa da gripe”. Em seguida, questionou: “Vamos fechar nosso país? Não, aprendemos a viver com ela, assim como estamos aprendendo a viver com a Covid, muito menos letal na maioria da população”.
A declaração, que não encontra base na realidade, levou a rede social a colocar um alerta de “informação potencialmente enganosa” na mensagem -não foi a primeira vez durante este ciclo eleitoral. Mais cedo, o Facebook havia removido uma publicação similar de Trump, de acordo com a CNN.
Os Estados Unidos carregam o maior número de mortos devido ao coronavírus no mundo, com mais de 210 mil óbitos até o momento. Já a influenza mata, geralmente, entre 22 mil e 64 mil pessoas por ano no país, de acordo com estatísticas do próprio governo americano.
O candidato à reeleição foi além. Sugeriu que estará no próximo debate com o democrata Joe Biden, no dia 15, ao afirmar que está “ansioso” pelo encontro, embora a equipe médica do presidente não tenha garantido que ele possa ir ao evento. Se for, terá desrespeitado o período recomendado de quarentena.
A nova leva de declarações vem após o disparo de uma artilharia de quase 20 tuítes em sequência para reforçar plataformas de campanha -sempre em LETRAS MAIÚSCULAS- e depois de ele tirar a máscara para as câmeras imediatamente depois de chegar à Casa Branca.
As imagens mais fechadas, porém, exibiam um homem que parecia ter dificuldades para respirar após três dias de internação. Trump recebeu três tratamentos diferentes no hospital militar Walter Reed, continua a ser monitorado na residência oficial e, desde que foi infectado, teve de recorrer a oxigenação suplementar.
Contradições entre as declarações dos médicos que o acompanharam e as dos assessores do presidente não permitem dizer qual é de fato a situação de saúde do republicano, algo que não parece ter tido algum efeito na mentalidade de Trump. Ele continua na mesma toada frente à pandemia –e irrita assessores.
Membros de sua campanha viram na internação uma oportunidade em potencial. Se ele se recuperasse rapidamente da Covid-19 e parecesse simpático ao falar sobre sua experiência -comum a de outros milhões de americanos-, poderia ter uma espécie de recomeço político.
A crise sanitária vem sendo um revés em seu esforço para se reeleger, mas também poderia oferecer uma chance de demonstrar uma nova atitude em relação ao vírus -sem perder a essência de seu discurso. Trump poderia destacar que a doença é séria, mas pode ser combatida.
Em vez disso, fez pouco para surfar na narrativa que seus assessores esperavam que surgisse e que poderia beneficiá-lo politicamente. Em vídeos produzidos nos bastidores, destinados a mostrá-lo trabalhando, o presidente não mencionou as dificuldades que o vírus causou a outras pessoas, ou que alguém tenha sofrido muito com ele. Tampouco citou os funcionários da Casa Branca que adoeceram.
Logo após voltar a Washington, publicou um vídeo em estilo de campanha, dizendo que “talvez seja imune, não sei”, ao vírus. E sua mensagem no Twitter, na segunda, em que declarava se sentir “melhor do que 20 anos atrás”, pintava o patógeno como algo semelhante a um fim de semana em um spa.
Não é a primeira vez que Trump sabota a vontade de seus auxiliares. Ele os contradisse sobre questões que vão da política para a China aos preparativos para o debate na semana passada.
Durante o fim de semana, assessores disseram ter visto claramente com quem estão lidando: Trump é considerado uma figura incapaz de empatia. Mas esperava-se que falar sobre sua própria experiência o ajudasse a administrar a pandemia daqui para frente e pudesse lhe trazer benefícios políticos.
Por enquanto, as pesquisas mais recentes mostram dados ruins para o republicano. Segundo o FiveThirtyEight, site que calcula a média das principais pesquisas nacionais de intenção de voto nos Estados Unidos, Biden está 8,7 pontos percentuais à frente de Trump.
Outros levantamentos mostram diferença ainda maior: pesquisa da agência de notícias Reuters com o instituto Ipsos aponta liderança de 10 pontos percentuais, enquanto sondagem realizada a pedido da CNN americana, publicada neste terça, deu 57% a 41% para o democrata, vantagem de 16 pontos percentuais.
Em estados cruciais para definir se Trump segue na Casa Branca ou não, como Michigan, Biden está nove pontos percentuais à frente, segundo levantamento do Detroit News/WDIC. O democrata tem 48% de preferência, contra 39% do republicano. Estudo da Reuters/Ipsos indica 51% a 43%.
Além da verborragia de Twitter, Trump fez algo de concreto nesta terça: interrompeu as negociações entre republicanos e democratas por mais estímulos econômicos nos EUA, decisão que provocou a queda de bolsas e deve impedir que milhões de americanos, desempregados devido à pandemia, recebam ajuda.
De volta à rede social, o líder americano acusou a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, de negociar de “má fé” e pediu aos senadores republicanos que se concentrem na aprovação de sua indicada à Suprema Corte, Amy Coney Barrett. “O melhor está por vir”, escreveu.