EDUARDO CUCOLO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As medidas do governo para segurar a queda na renda durante a pandemia devem atenuar a contração no consumo das famílias brasileiras, que ainda assim irá alcançar patamares recordes neste ano, superiores a 7%.
Sem o pagamento de auxílios a trabalhadores formais e informais, além da liberação do saque emergencial do FGTS, essa queda poderia chegar a quase 10%.
O alcance dos programas tem contribuído para melhorar as expectativas para a economia neste ano, mas há divergências sobre o que acontecerá após o fim, por exemplo, do auxílio emergencial a partir de setembro.
O Banco Central tem apontado que o impacto dessas medidas pode reduzir o espaço para novos cortes da taxa básica de juros, atualmente em 2,25% ao ano.
O Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) estima que a massa ampliada de rendimentos (que inclui, além de rendimentos do trabalho, benefícios de proteção social e previdenciários) registraria uma queda real de 5,7% em 2020 caso não houvesse uma política de compensação de renda.
Incluindo as transferências (auxílio emergencial, programa anti-desemprego e saques do FGTS), haverá crescimento real de 2%. Com isso, a projeção de queda no consumo das famílias, principal componente do PIB, da instituição passou de 9,7% para 7,1%.
A equipe do economista Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro e diretor do ASA Investments, estima um impacto um pouco menor dos auxílios, atenuando a queda do consumo de 9,4% para 7,6%.
O Ibre revisou a estimativa de queda do PIB (Produto Interno Bruto) de 2020 de 6,4% para 5,5%, devido principalmente ao impacto dos auxílios sobre a renda e ao desempenho menos pior que o esperado para o mercado de trabalho. Também contribuíram resultados não tão ruins do comércio e setor de transportes, ambos por conta do maior uso do canal de vendas online.
“Essas medidas estão mais do que compensando a queda na renda do trabalho. O cenário para o consumo das famílias, que é muito importante para a saída da recessão, melhorou”, afirma a pesquisadora do Ibre/FGV Luana Miranda.
“Desde a saída da crise de 2016 o consumo vem crescendo acima do PIB, sendo o principal motor do crescimento. Só que neste ano deve haver uma queda mais intensa do consumo do que do próprio PIB”, diz Luana.
O economista Carlos Kawall afirma que o programa de auxílio para informais foi fundamental como rede de proteção social, mas aponta uma série de limitações que reduzem seu impacto sobre a economia.
Ele aponta que o programa foi desenhado para proteger o trabalhador informal. Isso deixa de fora segmentos importantes como microempreendedores individuais, microempresários, donos de pequenos comércios, que não são elegíveis ou para quem, em alguns casos, os R$ 600 não fariam tanta diferença.
Regionalmente, o auxílio tem participação maior na renda e no PIB do Norte e Nordeste. Em outras regiões, como Sul e Sudeste, não haverá recomposição total da renda perdida com a pandemia.
“Esse benefício emergencial não vai gerar emprego adicional e demanda adicional de uma forma substancial para os setores perdedores nessa crise, como os serviços. Não adianta você simplesmente olhar a massa agregada de rendimentos, com queda da massa salarial e complementação via benefícios, e dizer que o valor era igual ao que era antes. É desigual”, diz Kawall.
Segundo ele, uns estão com renda acima do que tinham anteriormente, e outros estão até eventualmente sem renda.
“O auxílio está sendo fundamental para a proteção social, precisava ser feito algo com essas características. Mas é uma ilusão achar que é ele que vai gerar a recuperação da economia. Não acho que a melhor solução seja manter esse programa, independentemente do custo”, afirma o economista, para quem isso não impede um redesenho dos programas sociais do governo.
O ASA Investments projeta queda do PIB de 5,8% neste ano, desempenho também superior ao consumo das famílias.
Economia
Segunda-feira, 22 de julho de 2024
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