Até hoje, 375 shoppings (65% do total) deverão estar abertos no Brasil, conforme a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce)
Com corredores vazios e vendedores conversando para passar o tempo, os shoppings de São Paulo estão, para todos os efeitos, com as portas abertas ao público há um mês. No sentido prático, eles ainda não conseguiram convencer a clientela a retornar às lojas para consumir, destaca o Estadão.
Como resultado, comerciantes relatam vendas médias 90% inferiores às de antes da pandemia. Mariane Sampaio, dona de duas chocolaterias em shoppings da capital paulista, conta que já abriu e fechou o caixa para um faturamento de R$ 50. Ou de Jin Xiaoxiong, dono de uma rede de oito lojas de bijuterias, que ficou sem fazer uma única venda por três dias em uma das lojas. “As vendas não estão cobrindo nem mesmo as despesas com funcionários”, conta o empresário.
A situação se mantém preocupante, mesmo depois da ampliação do horário de funcionamento dos shoppings na cidade. Na semana passada, os centros de compras passaram a operar por seis horas diárias, ante as quatro de até então.
Para Vagner Simões, que tem um quiosque da Casa de Bolos no Shopping Center 3, na avenida Paulista, ficou pior após a ampliação do horário. Seus custos fixos aumentaram; as vendas, não. “Quando as lojas estavam funcionando por quatro horas, eu conseguia revezar com funcionários de uma outra unidade. Agora, fica mais difícil”, afirma. “Acabo vendendo apenas para os funcionários do próprio shopping.”
Até hoje, 375 shoppings (65% do total) deverão estar abertos no Brasil, conforme a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). No Estado de São Paulo são 132 centros comerciais abertos em 43 municípios. E, de uma forma geral, os empresários afirmam que a falta de clientes é uma constante em todo o País.
“Estamos operando com prejuízo em todas as nossas 130 lojas, em 110 shoppings pelo Brasil”, afirma Tito Bessa Junior Jr., dono da rede de vestuário TNG. “Do jeito que as coisas estão, vai haver uma quebradeira geral. É inevitável. Eu mesmo já fechei 36 lojas”, conta.
O empresário Guilherme Toledo, com lojas da CNS e da Doctor Feet no Rio de Janeiro, afirma que, nos melhores dias, desde o retorno às atividades, vendeu no máximo 15% da média de um dia antes da crise sanitária. “Estamos lutando para manter os empregados. Mas é uma situação terrível.”
Na opinião de Marcelo Feldman, da rede de vestuário feminino 18, os protocolos de abertura definidos pelos governos precisam ser repensados. “Em São Paulo, não faz sentido abrir às 16h para fechar às 22h. Depois das 20h não tem mais nenhuma alma viva nos shoppings ultimamente. Precisava abrir cedo, para pegar o horário de almoço, e fechar mais cedo.”
Crédito
Enquanto esperam pelo retorno das vendas, que para o presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo (Ibevar), Claudio Felisoni de Angelo, não deve acontecer antes do fim do ano, os comerciantes tentam acessar os programas de crédito emergencial lançados pelo governo federal, como o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe).
Outra estratégia que tem sido usada é a de negociar uma flexibilização dos pagamentos de aluguel e de condomínio cobrados pelas administradoras de shoppings (leia mais abaixo). Em ambos os casos, os empresários relatam passar por dificuldades.
Quanto ao crédito, os lojistas informam dificuldade em acessar a linha nos bancos. O Pronampe é distribuído pelas instituições cadastradas, públicas e privadas, e tem como meta conceder R$ 20 bilhões aos pequenos empresários – R$ 3 bilhões já foram repassados, segundo o governo.
Mas para Mariane Sampaio, da Chocolateria Brasileira, o dinheiro ainda não chegou. “Estou tentando pegar os recursos do Pronampe desde que foi lançado, em junho, mas até agora não consegui”, afirma. “Se não conseguir o empréstimo, vou ter dificuldade para manter minhas lojas.”
Aluguel
Sem dinheiro no caixa, lojistas relatam dificuldades para negociar com as administradoras dos shoppings uma flexibilização do aluguel e de taxas extras, como condomínio e fundo de propaganda. “Não tem como pagar e os shoppings estão nos esmagando, querendo 50% e até 100% do aluguel”, afirma Tito Bessa, que além de dono da TNG é presidente da Associação Brasileira dos Lojistas Satélites (Ablos). Para Jin Xiaoxiong, da rede de lojas de bijuterias Lebriju, os shoppings deveriam reduzir a cobrança sobre os lojistas, sob risco de ampliar as perdas no setor.
Vander Giordano, vice-presidente institucional da Multiplan, diz que os shoppings estão também no limite financeiro. “Quem ajuda os shoppings? A gente tem flexibilizado ao máximo com os comerciantes”, diz. Em nota, a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) afirma que “desde o início da pandemia as administradoras de shoppings já concederam mais de R$ 3,5 bilhões em descontos que englobam isenção parcial ou total de aluguel, fundos de promoção e (taxas de) condomínio”.