MARINA DIAS
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – A crise na produção de carne em meio à pandemia nos Estados Unidos deve fazer com que empresas americanas se voltem ao mercado interno, abrindo mais espaço para as exportações do setor no Brasil.
Diante do fechamento de dezenas de frigoríficos nos EUA desde o início da crise, especialistas afirmam que a carne brasileira pode ser uma opção segura quando os principais concorrentes mundiais enfrentam situações dramáticas na área de alimentos.
De acordo com relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês), 115 instalações de processamento de carne e aves relataram casos de Covid-19 espalhados por 19 dos 50 estados americanos até o fim de abril.
Entre os 130 mil trabalhadores desses locais, houve 4.913 diagnósticos confirmados e ao menos 20 mortes.
As maiores companhias de carne do mundo estão entre as que fecharam plantas nos EUA e reduziram a produção vertiginosamente por causa da doença entre os funcionários.
Entre elas, estão Tyson Foods, Smithfield Foods e JBS USA.
Os EUA são líderes mundiais da produção de carne bovina, enquanto o Brasil é o maior exportador, com vendas que atingiram o recorde de US$ 7,5 bilhões no ano passado.
Em termos gerais, a China é a maior produtora, com cerca de 125 milhões de toneladas por ano. O país asiático consome mais carne suína do que toda a produção de carne americana e ainda importa grande quantidade de carne bovina e frango, terreno no qual o Brasil poderia ampliar sua já forte atuação.
Na origem da pandemia, os chineses são os únicos entre as grandes economias globais que devem experimentar um crescimento neste ano, de 1,2%, após terem alcançado cerca de 6% em 2019.
A recuperação deve ser de 9,2% em 2020, segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), enquanto a retomada nos EUA será mais lenta, na casa de 4,7%.
Professor de agronegócio global do Insper, Marcos Jank diz que o Brasil não está imune a problemas nos frigoríficos, mas hoje é capaz de suprir a queda de produção mundial e se beneficiar da alta do câmbio nas exportações, além da reabertura da economia chinesa.
“O Brasil pode e deve dar o recado ao mundo de que tem produção para exportação segura. Nossos concorrentes estão em situação muito difícil.”
Além dos americanos, Jank cita Austrália, Argentina e a própria China como países que tiveram problemas na produção de carne no passado, culminando com a Covid-19 invadindo os frigoríficos em 2020.
Em nota à Folha de S.Paulo, a JBS USA reconhece que a produção diminuiu em algumas instalações por causa da pandemia, mas diz que a empresa continua a atender o mercado interno.
“O sistema agrícola americano é extremamente resiliente e, enquanto algumas empresas fecharam temporariamente, a indústria da carne vai continuar a atender às necessidades domésticas devido à queda nas exportações e na demanda por serviços de alimentos.”
Apesar de estar em rota crescente na curva da pandemia, com mais de 115 mil casos e quase 8 mil mortes, o Brasil adotou rapidamente medidas de prevenção na indústria de carne, como o uso de máscaras e o distanciamento entre trabalhadores, o que não ocorreu nos EUA.
Com mais de 1,2 milhão de diagnósticos e 71 mil vítimas, o país e seus produtores demoraram a agir.
Pelo menos 20 frigoríficos americanos fecharam durante a pandemia -alguns deles somente no fim de abril–, e muitos estão operando com baixa capacidade.
Além disso, há muito desperdício de produtos, como frangos e suínos, por exemplo, que precisam ser sacrificados e descartados por falta de mão de obra ou de consumidores.
A JBS fechou quatro plantas nos EUA. A Smithfield Foods, cinco. A Tayson Foods, por sua vez, fechou três de suas seis principais plantas no país e as que permanecem abertas, operam apenas parcialmente.
O presidente do conselho da Tyson Foods, John Tyson, disse em comunicado na semana passada que “a cadeia de oferta de alimentos [dos EUA] está se rompendo” e que haverá “disponibilidade limitada de nossos produtos no mercado” enquanto as plantas não reabrirem.
Preocupado com os danos econômicos em sua campanha à reeleição, Donald Trump decidiu intervir.
Em meio ao aumento de preços da carne no mercado e a escalada do desemprego no país, o presidente assinou uma ordem executiva para que os frigoríficos se mantenham abertos.
Baseado no Ato de Defesa da Produção, criado em 1950 para garantir a produção nacional, Trump quer evitar problemas de abastecimento, mas a Tayson afirma que a medida não deve adiantar.
Nesta segunda (4), em conversa com investidores, a cúpula da empresa afirmou que sua produção de carne de porco já havia despencado 50%, diante de projeções de analistas de que as perdas podem ser ainda maiores.
A ordem de Trump dá às empresas cobertura legal e proteção contra ações de responsabilização caso trabalhadores peguem o vírus por terem que se manter em serviço.
Especialistas afirmam que ainda é difícil saber qual será impacto da ordem do governo na produção de carne do país. Um dos termômetros pode ser o preço e a disponibilidade dos produtos nas prateleiras.
Por enquanto, quem tiver menos danos na cadeia produtiva e souber aproveitar os vácuos deixados pelos americanos conseguirá se posicionar como agente capaz de garantir a segurança de alimentos no mundo diante de uma crise sem precedentes, segundo Jank.
Economia
Segunda-feira, 22 de julho de 2024
![](https://datamercantil.com.br/wp-content/uploads/2022/05/Group-30.png)
Dólar | R$ 5,18 | 0,000% |
Peso AR | R$ 0,03 | 0,164% |
Euro | R$ 5,59 | 0,000% |
Bitcoin | R$ 114.180,92 | 0,096% |
Grupo Wine investe R$ 18 milhões em primeira vinícola no Brasil e lança 7 rótulos
Olhando para a ampliação do crescimento em 2024, o Grupo Wine anunciou o investimento em sua primeira vinícola no Brasil, em parceria com a Miolo. A empresa afirmou que o valor investido no projeto foi de R$ 18 milhões, entre custos de mercadoria, novas tecnologias de produção, desenvolvimento de produtos e marketing. Batizada de “Entre...
Negócios
Antes de pente fino, governo suspendeu ou encerrou pagamentos de 57 mil benefícios do INSS
Revisão ampliada começará em agosto e ajudará Planalto a reduzir despesas em orçamento de 2025 Às vésperas de começar um pente fino na revisão no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o governo já suspendeu ou deu por encerrado o pagamento de 57.700 benefícios. Desses, 37.325 foram cessados e outros 20.375 foram suspensos – esses...
Política
Família Safra anuncia que resolveu ‘amigavelmente’ disputa bilionária entre herdeiros
A Família Joseph Safra divulgou um comunicado nesta sexta-feira, 19, anunciando que resolveu, de forma amigável, a disputa com Alberto Joseph Safra. Herdeiro de Joseph Safra – o homem mais rico do Brasil até sua morte -, Alberto Safra entrou com processos, um deles na Justiça do Estado de Nova York, nos Estados Unidos, contra...
Negócios
Nos EUA, home office está transformando escritórios vazios em novos apartamentos
Custos inesperados e mudanças radicais nas estruturas são desafios A maioria dos americanos conhece a regra número 1 do setor imobiliário: “localização, localização, localização”. Mas para alguns, existe uma nova estratégia vencedora: “reciclar, reciclar, reciclar”. Um número crescente de edifícios de escritórios encontrou uma segunda vida como apartamentos, impulsionados pelo movimento do home office da...
No Mundo
Suzano: operações do Projeto Cerrado tiveram início neste domingo
A Suzano informou que teve início neste domingo, 21 a operação da nova fábrica de produção de celulose de Ribas do Rio Pardo, no Mato Grosso do Sul, denominada Projeto Cerrado, com capacidade de produção anual de 2,55 milhões de toneladas de celulose branqueada de eucalipto. A companhia tinha anunciado em junho que o início...
Negócios
Flávio Bolsonaro ironiza áudios de Ramagem
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ironizou no sábado, 20, a divulgação de áudios em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) traça estratégias para livrá-lo do inquérito das “rachadinhas”. Ao lado do pai no palanque do ato de pré-campanha do deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ) em Niterói, na região metropolitana do Estado do Rio, Flávio disse...
Política
Orçamento: congelamento de R$ 15 bi será oficializado nesta segunda
A equipe econômica oficializará, nesta segunda-feira (22), o congelamento de R$ 15 bilhões no Orçamento de 2024. A suspensão dos valores constará do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas, a ser enviado na tarde de segunda ao Congresso Nacional. Na última quinta-feira (18), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, antecipou o anúncio do congelamento, em meio...
Economia