Cultura
Quarta-feira, 3 de julho de 2024

Série de ‘O Nome da Rosa’ estreia após aprovação do filho de Umberto Eco

LEONARDO SANCHEZ
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em 1980, “O Nome da Rosa” catapultou o professor de semiótica italiano Umberto Eco à fama, consagrando-o tanto entre o público, quanto entre a classe intelectual. Ambientado em um monastério do norte da Itália no século 14, o romance coloca o leitor numa investigação sobre uma série de mortes em circunstâncias insólitas.
Seis anos depois, o livro foi adaptado para o cinema, com Sean Connery no papel de William de Baskerville, o frade franciscano encarregado de desvendar aquele mistério.
Agora, 40 anos mais tarde, John Turturro ainda vê atualidade na obra e decidiu adaptá-la mais uma vez – só que agora em forma de minissérie.
“The Name of the Rose” – sem título em português mesmo – estreia nesta quinta (7) no serviço de streaming Starzplay, que nos últimos meses tem adquirido os direitos de exibição de várias produções chamativas na América Latina, a fim de bater de frente com gigantes como a Netflix.
Em termos de sinopse, nada muda nos sete episódios da minissérie, encomendada pela emissora italiana Rai.
Turutrro não somente produz a trama, como também veste o hábito de William de Baskerville. Ao seu lado, Damian Hardung assume o papel de Adso, que já foi de Christian Slater. Completa o elenco principal o britânico Rupert Everett.
“Eu não assisti ao filme original quando ele foi lançado e eu não acho que isso teria sido muito útil para mim”, diz Turturro sobre a adaptação de 1986. “Era uma versão de duas horas e meia de um livro de 530 páginas, e para esse projeto eu não queria ter que apagar nada.”
Ele deixa claro que é fã de Sean Connery, mas que não podia deixar de associar seu William de Baskerville a James Bond quando assistiu ao longa. “Eu acho que agora tivemos a chance de pôr muito da filosofia de Eco na trama”, afirma.
Turturro é bastante protecionista quanto ao magnum opus de Eco, como se tivesse sido escrito por ele mesmo. E ele não poupa elogios à escrita do italiano.
“Ele é um mestre em pôr temas em camadas, em abordar conceitos complexos enquanto mantém a leitura muito prazerosa. Ela nunca parece pesada. Eu criei uma admiração imensa pela escrita do Eco enquanto trabalhava no roteiro da minissérie.”
E, apesar de o autor ter morrido em 2016, Turturro se orgulha de ter conquistado a aprovação de seu herdeiro para a série: “Eu sei que seu filho, Stefano, gostou muito dessa adaptação”.
Mas, entre o público e a crítica estrangeira, os elogios não chegaram exatamente aos montes. No agregador de críticas online Rotten Tomatoes, “The Name of the Rose” alcançou 57% de aprovação desde que estreou em terras estrangeiras, há cerca de um ano. Bem abaixo dos 74% alcançados pelo filme.
A discrepância entre a opinião da família Eco e do público faz sentido, se considerado que o escritor italiano nunca foi fã da adaptação cinematográfica de seu trabalho. E o que surge como principal contraste entre as duas versões é o que Turturro chama de uma “confiança nas palavras de Eco”, na “riqueza da história do livro”.
“The Name of the Rose” é certamente menos cinematográfica que sua antecessora das telonas, com ritmo mais lento do que o proposto pelo protagonista de Sean Connery, um ator que, afinal, se consagrou pelos filmes de ação.
Críticas e preferências à parte, Turturro gosta de pensar que a relevância da história narrada por Eco nos dias de hoje é o que realmente importa.
“A história vem de um ótimo livro que, infelizmente, ainda é muito pertinente hoje e no mundo em que vivemos, em termos de poder e política”, diz o ator. “As pessoas ainda tentam se destruir, pegam ideias e as subvertem em prol de interesses pessoais. O William de Baskerville surge como uma figura contra o absolutismo, contra as pessoas que têm medo do conhecimento.”
“Em qualquer tipo de ditadura ou governo demagogo, os primeiros a morrer são os intelectuais, escritores, poetas, médicos. E os livros são banidos, queimados porque fazem perguntas às pessoas. Demagogos não perguntam, eles só dão respostas.”

THE NAME OF THE ROSE
Disponível na Starzplay