Política
Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Kassab roda o estado de SP de jatinho para atrair prefeitos a apoiar Tarcísio

Marcia Helena Pereira Cabral Achilles é prefeita de Guaimbê (a 467 km de SP), se diz tucana antes mesmo de o PSDB ter sido fundado e trabalhou pela reeleição do atual governador Rodrigo Garcia. Adilson de Oliveira Lopes, seu colega de partido e prefeito de Álvaro de Carvalho (a 433 km de SP), afirma que combate o PT desde quando se conhece por gente.
Ambos compartilham do mesmo desejo: “Que nenhum convênio [firmado com o governo] será paralisado”, diz Marcia.
Em sua corrida pelo Governo de São Paulo, o candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos) mobilizou uma rede com quase 500 prefeitos dos 645 municípios. A grande maioria desses políticos estava com Rodrigo no primeiro turno.
Para construir esta rede, uma comitiva liderada por Gilberto Kassab, presidente do PSD e um dos mais hábil articulador da candidatura de Tarcísio, percorreu ao longo deste segundo turno os quatro cantos do estado.
A caravana é reforçada com os deputados federais e líderes partidários Gilberto Nascimento (PSC) e Marcos Pereira (Republicanos), além do deputado estadual André do Prado (PL).
As viagens, para atender o maior número de prefeitos, são realizadas a bordo de avião fretado. Em dois dias, por exemplo, a comitiva esteve em Marília, Ourinhos e Ribeirão Preto –a convite de Kassab, a Folha acompanhou essa viagem.
No dia seguinte, um comboio de carros foi da capital ao litoral.
Cada encontro dura quase três horas ou mais e reúne dezenas de prefeitos dos municípios vizinhos. Do palco, Kassab e seus companheiros pedem uma mobilização em suas respectivas cidades para virarem votos em Tarcísio.
“Estamos aqui para ouvir os prefeitos, temos convicção que o eleitor se identifica com as propostas de Tarcísio, mas para isso precisamos trabalhar. Não basta acreditar nas pesquisas porque reflete o dia de hoje”, disse Kassab.
Cada um dos prefeitos faz o seu discurso, um gesto tido por Kassab como importante para valorizar a importância que Tarcísio dispensa ao municipalismo.
“Esse alinhamento do governo estadual com o governo federal fará bem para esta locomotiva de São Paulo. Tivemos um pouco com [Michel] Temer, mas teve continuidade por causa do governador [João Doria], como o presidente [Bolsonaro] gosta de dizer, o calcinha apertada”, falou Pereira à plateia, que gargalhou e aplaudiu.
Ao longo da reunião, Tarcísio participa através de uma ligação por WhatsApp e afirma que gostaria de estabelecer um pacto com todos.
“Todos os convênios que estão em andamento, os projetos e as obras em execução terão continuidade. A gente sabe que muitos prefeitos apoiaram o atual governador, o que é absolutamente compreensível, porque a gente sabe como é difícil conseguir um convênio”, avisa Tarcísio.
Por fim, o candidato ao governo faz um alerta para os prefeitos reforçarem aos moradores de suas cidades que o seu número na urna é o 10, e não o 22 de Bolsonaro.
“Perdi muito voto, foram anulados, por causa de pessoas votando no 22 para governador.”
Prefeitos, principalmente de cidades de pequeno e médio porte, com a ajuda de funcionários da gestão municipal e vereadores aliados, atuam como poderosos cabos eleitorais, promovendo eventos como carreata e distribuindo material de campanha, entre eles, adesivos, jornais e panfletos.
“Se o prefeito se empenhar na campanha, ele consegue transferir 20% de votos [do eleitorado daquela cidade] ao candidato. Este apoio do Rodrigo logo no início do segundo turno foi importante para liberar os prefeitos a apoiarem o Tarcísio”, afirma Prado.
A ausência de Tarcísio também é justificada com muita cautela. Entre as razões, os aliados dizem que ele direcionou sua agenda para compromissos na Grande São Paulo -onde Fernando Haddad (PT) obteve seu melhor desempenho nas urnas.
“Precisamos arregaçar nossas mangas para fazermos a diferença no interior, deixando o Tarcísio [livre] visitando outras regiões como a capital”, disse Caio Aoqui (PSD), prefeito de Tupã. Cidade onde Bolsonaro e Tarcísio contabilizaram, respectivamente, 65% e 66% dos votos no primeiro turno. “Vamos, agora, passar de 70%, 80%.”
Pelo interior, André do Prado, Marcos Pereira e Gilberto Nascimento clamam, também, por apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) diante de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Minha sobrinha estuda na USP e votou no Lula. Eu disse para ela, vota pelo seu tio no segundo turno”, afirma André do Prado, dando exemplos de como tentar convencer os eleitores a desistirem de Lula e Haddad.
Marcos Pereira compartilha da narrativa de Bolsonaro na qual garante que, se Lula for eleito, o Brasil terá o mesmo destino da Venezuela.
“Tenho um escritório de advocacia, um cliente perdeu uma propriedade na Venezuela, que foi expropriada pelo estado e custou US$ 7 milhões. E teve US$ 12 milhões na conta da sua empresa tomados por Hugo Chávez. Não podemos pestanejar, dia 30 é 10 e 22”, disse Pereira.
Gilberto Nascimento faz aceno às mulheres, uma das faixas do eleitorado onde Lula lidera, e pede para que elas convençam aos indecisos de que Tarcísio é o melhor governador para São Paulo e Bolsonaro será o restaurador da nação.
O deputado recorda a passagem bíblica em que as mulheres foram as primeiras a saber da ressurreição de Jesus Cristo. “Se ali tivesse três homens, nem Marília saberia que Jesus ressuscitou. Mas, como foram três mulheres, todo mundo sabe”, disse Nascimento.
A Folha de S.Paulo viajou a Marília, Ourinhos e Ribeirão Preto a convite do PSD.

Fonte: FolhaPress