
O Conselho de Segurança da ONU aprovou nesta segunda-feira (24), com voto conjunto dos Estados Unidos e da Rússia, uma resolução proposta por Washington que pede um “fim rápido” para a Guerra da Ucrânia sem mencionar Moscou como agressor nem pedir por retirada de soldados russos do território ucraniano.
O texto foi aprovado sem que a França e o Reino Unido utilizassem seu poder de veto como membros permanentes do Conselho de Segurança para barrar a resolução -Paris e Londres se abstiveram, assim como Grécia, Dinamarca e Eslovênia.
A votação, mais simbólica do que com efeitos práticos, já que não faz exigências a nenhum dos lados, representa a profunda mudança na política externa americana no segundo mandato de Donald Trump na Casa Branca.
Além de pedir fim rápido para a guerra, a resolução dos EUA lamenta os mortos do “conflito Rússia-Ucrânia” e reafirma o papel da ONU de manter a paz. “Esse texto é um primeiro passo crucial, e deveríamos ter orgulho dele”, disse a embaixadora americana às Nações Unidas, Dorothy Shea. “Agora, precisamos usá-lo para construir um futuro pacífico para a Ucrânia, a Rússia e a comunidade internacional.”
A embaixadora britânica Barbara Woodward disse que o Conselho de Segurança deveria enviar uma mensagem de que “a agressão não compensa”. “Não pode haver equivalência entre a Rússia e a Ucrânia neste Conselho em relação à guerra. Se vamos encontrar um caminho para paz, precisamos ver com clareza a origem do conflito.”
Horas antes, a Assembleia-Geral havia reiterado seu apoio à integridade territorial da Ucrânia e condenado a invasão russa. O movimento havia sido uma derrota para os Estados Unidos, que não conseguiram aprovar plenamente sua proposta no órgão que reúne todos os Estados-membros.
O texto apresentado pelos EUA na Assembleia-Geral acabou tão emendado por países europeus que mesmo Washington se absteve de votá-lo. Entretanto, mais tarde, a resolução da diplomacia americana recebeu o aval do Conselho de Segurança.
O texto que havia sido preparado pela Ucrânia e seus aliados europeus -adotado na Assembleia-Geral por 93 votos a favor, 18 contra, incluindo EUA e Rússia, e 65 abstenções-, reitera o “compromisso com a soberania, independência, unidade e integridade territorial da Ucrânia”. Na lista dos que se abstiveram estavam, entre outros, Brasil, Argentina e Cuba.
A resolução destaca também a urgência de acabar com a guerra “neste ano”, repete as exigências anteriores da Assembleia de um cessar-fogo imediato da Rússia contra a Ucrânia e a retirada de suas tropas.
“Nenhum país está seguro se uma agressão é justificada e a vítima é culpada por sua resiliência e desejo de sobreviver”, disse antes da votação Mariana Betsa, vice-ministra ucraniana das Relações Exteriores aos 193 estados da ONU. “Essa guerra nunca foi apenas sobre a Ucrânia. É sobre o direito fundamental de qualquer país existir, escolher seu próprio caminho e viver livre de agressão.”
O rascunho original dos EUA tinha três parágrafos -lamentando a perda de vidas durante o “conflito Rússia-Ucrânia”, reiterando que o principal propósito da ONU é manter a paz e segurança internacionais e resolver disputas pacificamente, e instando a um fim rápido do conflito e a uma paz duradoura.
Emendas europeias, no entanto, adicionaram referências à invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia e à necessidade de uma paz justa, duradoura e abrangente em conformidade com a Carta fundadora da ONU.
Após as numerosas emendas adotadas, o texto também foi aprovado, por 93 votos a favor, 8 contra e 73 abstenções, incluindo a da delegação dos EUA.
À luz dessas votações no terceiro aniversário da invasão russa, o apoio à Ucrânia caiu consideravelmente desde os 140 votos favoráveis que a primeira resolução da Assembleia-Geral obteve em favor da soberania da Ucrânia.
Fonte: FolhaPress