IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na última semana antes da eleição municipal, o prefeito Bruno Covas (PSDB) segue em alta na disputa em São Paulo.
Pela primeira vez, surge numericamente em segundo lugar Guilherme Boulos (PSOL), embora ele se mantenha em empate técnico com Celso Russomanno (Republicanos) e Márcio França (PSB).
Os dados são de pesquisa do Datafolha na capital paulista, que ouviu 1.512 eleitores nos dias 9 e 10 de novembro. O levantamento, contratado pela Rede Globo e pela Folha de S.Paulo, tem margem de erro de três pontos para mais ou menos. O nível de confiança utilizado é de 95%.
A divulgação do levantamento chegou a ser censurada, a pedido da campanha de Russomanno, pelo juiz eleitoral Marco Antonio Martin Vargas.
Após mandado de segurança do Datafolha no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de SP, a publicação foi autorizada na noite desta quarta (11) pelo juiz Afonso Celso da Silva.
Pelos resultados da pesquisa, Covas manteve sua curva ascendente registrada na rodada anterior, nos dias 3 e 4. Subiu de 28% para 32% das intenções.
A segunda colocação está dividida entre Boulos, que oscilou de 14% para 16%, Russomanno (16% para 14%) e França (13% para 12%).
No dia da eleição, a Justiça Eleitoral só contabiliza os votos válidos, excluindo assim os brancos e nulos da contagem final.
Por esse critério, Covas está com 36% das intenções de voto, o que deverá animar os estrategistas tucanos.
Em 2016, no mesmo ponto da eleição, João Doria (PSDB) tinha 35% dos válidos (e 30% dos totais), e acabou eleito no primeiro turno -quando o candidato precisa de 50% mais um voto para vencer.
Agora, Boulos fica com 17% dos válidos, enquanto em 2016 o mesmo Russomanno tinha 26% deles a esta altura.
O deputado, que é apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, agora tem 15% dos válidos (Marta Suplicy, no pleito no MDB, tinha 17%) e França, 13%, o mesmo que o então prefeito Fernando Haddad (PT).
O candidato do PSOL registrou a alta numérica após duas pesquisas estagnado, enquanto o do Republicanos segue sua trajetória de queda.
Ele e França mantiveram distribuição uniforme de seu apoio entre os estratos analisados.
Já Covas viu crescer seu apoio entre evangélicos (25% para 32%), mostrando que a tática de apostar em visitas a templos em fins de semana teve eficácia.
Russomanno, cujo partido é o braço político da Igreja Universal do Reino de Deus, viu seu apoio minguar no grupo de 25% para 14%.
O prefeito tucano também melhorou a avaliação entre os mais pobres (25% a 34%), os menos instruídos (30% a 41%) e quem tem mais de 60 anos (38% para 47%), sugerindo uma ligação com o nome de seu popular avô, Mário Covas (1930-2001).
O deputado do Republicanos teve redução de apoio entre mais pobres (24% para 15%) e quem estudou até o fundamental (23% para 15%).
Assim como 2012 e 2016, Russomanno saiu na frente na pesquisa, na casa dos 30% -este ano, no fim de setembro, tinha 29%).
Desidratou progressivamente, enquanto viu crescer sua taxa de rejeição, que saiu de 21% na pesquisa inicial e bateu 49% na atual.
Abaixo do líder Covas e do pelotão do segundo lugar vem o grupo dos lanternas de um pleito bastante fracionado.
Jilmar Tatto (PT) oscilou negativamente de 6% para 4%, empatando com Arthur do Val Mamãe Falei (Patriota, 4%), Joice Hasselmann (PSL, 3%), Andrea Matarazzo (PSD, 2%), Marina Helou (Rede, 1%) e Vera Lúcia (PSTU, 1%).
Não pontuaram Levy Fidélix (PRTB), Orlando Silva (PCdoB) e Antônio Carlos (PCO).
Estão certos em quem vão votar 67% dos eleitores, ante 57% nos dias 3 e 4. Os mais convictos estão entre eleitores à esquerda, de Boulos (81%) e Tatto (82%).
Dizem estar convictos no voto em Covas e Mamãe Falei (ambos com 69%), enquanto França (59%) e Russomanno (56%) têm apoio menos firme.
Alguns indicadores podem sugerir a eventual migração de apoio e voto útil nesta reta final.
A principal segunda opção dos eleitores de Russomanno é Covas: 29% dizem que votariam no prefeito.
Entre quem apoia França, o maior contingente (23%) poderia votar em Russomanno.
O que restou do eleitorado petista, que nesta eleição migrou para o PSOL, divide a esta altura a alternativa a Tatto entre Boulos e França, ambos com 14% de preferência.
Covas vê Boulos como a segunda opção de 42% de seus eleitores. No cargo, ele aproximou-se de setores à esquerda, mas na campanha está repetindo bordões antipetistas e os associando ao nome do PSOL.
Como é usual, o conhecimento do número do candidato não é dos mais amplos: 47% citam corretamente sua escolha.
Entre os quatro primeiro colocados, a pior situação é justamente daquele que mais destacou seu número, Russomanno, que se apresentou como CR10.
A tentativa de associação com CR7, como o craque de futebol português Cristiano Ronaldo se vende, não está sendo muito eficaz: 29% dos seus eleitores sabem seu número.
A pesquisa do Datafolha foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral sob o número SP-05584/2020.
Ao autorizar a publicação da pesquisa, o juiz do TRE-SP Afonso Celso da Silva citou argumento do ministro do TSE Sergio Silveira Banhos, segundo o qual “a Justiça Eleitoral, em regra, busca privilegiar o exercício das liberdades fundamentais, atuando no controle do conteúdo dos quesitos de pesquisas apenas em situações excepcionais de manifesta abusividade”.
O magistrado afirma ainda que “tratando-se de institutos consagrados, como são o Ibope, o Datafolha e o
Voxpopuli, conforme reconheceu o próprio Supremo Tribunal Federal em voto do ministro Marco Aurélio, eventuais consequências podem ser buscadas no campo patrimonial e penal, sem que se possa tisnar os importantes princípios constitucionais em jogo no caso dos autos”.
Na decisão, o juiz Afonso Celso da Silva determinou que a publicação fosse acompanhada do esclarecimento abaixo: “A presente pesquisa se encontra impugnada na Justiça Eleitoral em virtude da alegada ausência, em seus resultados, da consideração do nível econômico dos entrevistados, bem como pela divisão do grau de instrução destes, no plano amostral, ter sido em duas categorias (nível fundamental e médio – 67%; nível superior -33%).”
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Domingo, 30 de junho de 2024
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