LEONARDO SANCHEZ
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil é um país de muitas faces, mas algumas delas ainda são ocultas para muita gente. Tradições e manifestações culturais de várias regiões costumam dar as caras em filmes, séries e novelas feitos aqui, mas é com certo ineditismo que a mais nova produção do Globoplay, “Desalma”, leva às massas uma cultura que é quase desconhecida mesmo em terras brasileiras.
“É um Brasil que não é muito o Brasil”, diz Ana Paula Maia, criadora e roteirista da série, sobre o cenário que escolheu para sua trama de tons sobrenaturais –o dos rituais promovidos em cidades de influência eslava no sul do país.
Com estreia marcada para a semana que vem na plataforma de streaming da Globo, “Desalma” se passa na cidadezinha fictícia de Brígida. Mas enquanto o lugar é invenção de Maia, os costumes e ritos que movimentam a trama encontram inspiração nas colônias ucranianas que ainda hoje preservam um pedaço de leste da Europa no Brasil.
“Quando eu me mudei para o Paraná, eu descobri essa cultura muito presente e que você nem sabe que existe aqui no Brasil. Ela é muito forte e muito viva, o que me fez ter vontade de escrever essa série”, diz Maia, que mergulhou nas tradições da pequena Prudentópolis, essa sim de verdade, para pesquisar o contexto de “Desalma”.
“É um outro mundo. Até as subdivisões dos lugares têm outros nomes. É algo muito mesclado e muito rico, com uma paisagem lindíssima e envolta em mistérios.”
Esses mistérios atravessam os personagens do seriado, que se ancora no terror para acompanhar uma mulher que se muda com as filhas para a tal Brígida. A paz que procura, no entanto, é ameaçada pelo Ivana Kupala, celebração do solstício de verão que fora banida três décadas antes.
“‘Desalma’ é um suspense sobrenatural, que tem uma relação muito forte com os imigrantes daquele lugar, que tem rituais bonitos e ao mesmo tempo sombrios”, diz Maia. “Eu achei esses elementos muito favoráveis para uma história com o sobrenatural, levado para um drama familiar.”
Com direção artística de Carlos Manga Jr., a série é encabeçada, no elenco, por três mulheres –Maria Ribeiro, Cláudia Abreu e Cássia Kiss, esta no papel de uma bruxa de longos cabelos brancos e de semblante austero.
“Eu sempre fui muito cobrada para escrever sobre mulheres. Quando eu decidi, nesse projeto, falar sobre bruxaria, se tornou quase impossível não falar de mulheres”, conta Maia, autora de livros premiados, como “Assim na Terra como embaixo da Terra” e “Enterre Seus Mortos”, todos com um pé no horror.
“Essa não foi uma decisão consciente, foi algo criado conforme a trama ia avançando. E quando a gente fala de bruxas, elas são muito mais interessantes que os bruxos – as mulheres evocam um mistério maior. E a bruxa que a gente conhece no Ocidente vem justamente das tradições do leste europeu.”
Nesta investida no terror, o Globoplay busca se descolar da imagem de plataforma noveleira e alçar novos voos, mirando o mercado internacional. Não é à toa que tanto a trama quanto a estética de “Desalma” ecoam produções estrangeiras, como “Midsommar”, “A Vila” e “Dark”.
Da última, pegou emprestado o designer de som Alexander Wurz, o que corrobora com a ideia de que a série quer extrapolar fronteiras, bem como fez a alemã “Dark”, um sucesso mundo afora apesar da suposta barreira do idioma.
“Eu acredito na possibilidade [de a série fazer sucesso lá fora]. Saber, a gente não sabe, mas eu acredito que o projeto tem essa oportunidade, pelo tamanho. Eu acho que a gente vai conseguir agradar a vários públicos.”
O Globoplay parece apostar alto, já que uma segunda temporada de “Desalma” está em desenvolvimento. Resta saber se a série vai enfeitiçar o público.
Cultura
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