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Quarta-feira, 24 de julho de 2024

‘Melhor sobrar do que faltar?’ A Food To Save não concorda (e fez uma rodada para provar)

Quando Lucas Infante era proprietário de uma franquia do Carrefour Express na Espanha, ele enfrentou um problema que o preocupava todas as noites: o excessivo desperdício de alimentos.

“Eu gerenciei o negócio antes, durante e após a pandemia, quando era o único estabelecimento aberto no bairro. Percebi que, independentemente das circunstâncias ou do fluxo de clientes, o desperdício de alimentos sempre ocorria devido a problemas de controle de vendas e falta de previsibilidade,” disse Lucas ao Brazil Journal.

Essa experiência foi o catalisador para Lucas e seu parceiro Murilo Ambrogi fundarem a Food To Save, um marketplace que conecta consumidores a estabelecimentos com produtos prestes a vencer ou que não foram vendidos no dia. Os outros dois sócios são Fernando dos Reis (COO) e Guido Bruzadin (CTO).

No aplicativo, os consumidores podem adquirir uma “sacola surpresa” de estabelecimentos como a padaria Dona Deôla, a rede de hortifrútis Natural da Terra e os hotéis Ibis, com descontos de até 70%.

O marketplace já conta com mais de 4 mil estabelecimentos e 2 milhões de consumidores cadastrados, com previsão de movimentar cerca de R$ 50 milhões este ano (a receita da startup é uma porcentagem um pouco acima de 10% dessas vendas).

Agora, a Food To Save acaba de concluir uma rodada de captação de R$ 14 milhões, liderada pela DSK Capital e com a participação das gestoras Spectra e HiPartners.

Investidores-anjo como João Galassi (presidente da Associação Brasileira de Supermercados), Paulo Camargo (ex-presidente do McDonald’s no Brasil e atual CEO da EspaçoLaser) e João Branco (ex-VP de marketing do McDonald’s Brasil) também participaram.

A Food To Save enfrenta um problema de grande escala. Globalmente, um terço de todos os alimentos produzidos acaba no lixo. No Brasil, são descartadas 40 mil toneladas de alimentos todos os dias (30 milhões por ano).

“Estamos falando de um mercado potencial de US$ 700 bilhões em escala global,” afirmou Lucas. “No Brasil, esse mercado atinge US$ 40 bilhões.”

Como a Food To Save atua na etapa final da cadeia, evitando o desperdício dos varejistas, seu mercado potencial é menor, estimado em cerca de US$ 5 bilhões.

Para Lucas, o maior desafio para o crescimento da plataforma é cultural. Ele aponta que a mentalidade de “é melhor sobrar do que faltar” está profundamente enraizada na cultura brasileira. “Superar essa barreira e mostrar aos consumidores os benefícios de evitar o desperdício é um desafio significativo,” disse o fundador.

Com os recursos provenientes da rodada, a Food To Save planeja expandir sua equipe para sustentar o crescimento da plataforma nos próximos anos. Lucas enfatiza que o modelo de negócios da startup é altamente escalável e replicável, e a Food To Save pretende consolidar sua presença nas 20 cidades onde já atua, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, além de ingressar em novos mercados.

A Food To Save é uma das poucas sobreviventes em um mercado com alta taxa de mortalidade. Nos últimos anos, várias startups com propostas semelhantes, como a EcoFood (em Maringá), a Bom App (no Rio de Janeiro) e a FoodHero (com atuação nacional), surgiram e desapareceram devido a problemas de execução e falta de capital, que dificultaram a expansão de suas plataformas.

“Mas nosso modelo é resiliente. Já alcançamos uma escala interessante e contamos com muitos parceiros estratégicos conhecidos, o que gera interesse por parte dos consumidores.”

Fonte: Brazil Journal