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Castro é pressionado por aliados no Rio, e volta de ex-secretário ganha peso para 2026

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), voltou de viagem a Portugal, onde acompanhou o Fórum de Lisboa, pressionado para tomar a decisão de manter ou reverter a exoneração do ex-secretário de Transportes Washington Reis (MDB).
Reis foi exonerado do cargo na quinta-feira (3) pelo deputado Rodrigo Bacellar (União Brasil), presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e que havia assumido como governador em exercício durante a viagem de Castro. Bacellar é pré-candidato ao governo estadual em 2026.
Pessoas próximas ao governo analisam que Castro pode dar sinais de enfraquecimento político e ampliar poderes do deputado se mantiver a exoneração. Por outro lado, se Castro renomear Washington Reis, Bacellar promete romper com o governo. Parte dos deputados da base está disposta a isolar o governador caso haja a readmissão.
Segundo interlocutores, Castro avalia publicar a renomeação de Reis no Diário Oficial nesta semana, em movimento que consolidaria a cisão com Bacellar.
O combinado em vigor é Castro sair do cargo de governador até abril de 2026 para concorrer ao Senado, conforme regra do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), deixando Bacellar como governador durante o pleito.
O Executivo fluminense não tem vice desde maio, quando Thiago Pampolha foi nomeado conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado), em movimento feito para ampliar poderes de Bacellar.
Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nos últimos anos, Reis preside o MDB no estado e, apesar de inelegível, não nega interesse em se candidatar ao Palácio Guanabara, caso reverta a inelegibilidade. Ele se aproximou do prefeito Eduardo Paes (PSD) e fez acenos à ideia de candidatura nas últimas semanas, o que irritou a base.
Líderes do PL e do União Brasil na Alerj convenceram Bacellar, no fim de junho, a exonerar Washington Reis quando Castro saísse em viagem. A justificativa da exoneração é que Reis “acende vela para os dois lados”.
“O meu lado é com o grupo do Jair Bolsonaro. Já, no caso dele, ficou nítido que se alinhou ao prefeito do Rio e ao presidente Lula”, disse Bacellar na quinta.
Em Portugal, Castro não se manifestou publicamente, mas entrou em contato com o ex-secretário para dizer que “resolveria o problema”, segundo pessoas a par da relação. Na sexta (4), Bacellar disse que romperia com o governo se ele renomeasse Washington Reis.
Quatro dias antes, na segunda (30), ainda como presidente da Alerj, Bacellar bateu boca com o irmão de Washington Reis, Rosenverg Reis (MDB). O plenário havia aprovado a convocação de Reis para uma CPI e Rosenverg, ao defender o irmão, afirmou que era Bacellar quem comandava o estado.
Bacellar respondeu: “O senhor está fazendo ataque pessoal. Comigo, não. Não me confunda com o Cláudio Castro”.
Parte dos políticos da direita fluminense entende que Bacellar esticou a corda tanto ao dizer que não era Cláudio Castro quanto ao exonerar Reis sem o aval do governador.
Já deputados da base afirmam que o presidente da Assembleia tomou a decisão que o governador havia evitado, a de exonerar um secretário que tem sido atraído para perto de Paes.
O maior desentendimento entre Reis e Castro ocorreu no início de junho, após o então secretário anunciar ao vivo em um telejornal que a tarifa do metrô seria reduzida. Logo depois, foi desmentido e desautorizado pelo governador. Castro estava em reunião no Palácio Guanabara e soube por assessores do anúncio na TV.
Bacellar planejava anunciar naquela semana que a redução na tarifa seria em parte subsidiada pela Alerj. Para adversários, Reis quis passar à frente no episódio. O ex-secretário defende que houve falha na comunicação.
Potencial candidato a governador, apesar de não admitir publicamente, Paes cogita Reis como um dos candidatos ao Senado na chapa. Já o PL planeja para o Senado a dupla Cláudio Castro e Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Na sexta, como governador em exercício, Rodrigo Bacellar se encontrou com Flávio durante agenda em Armação dos Búzios.
Três vezes prefeito de Duque de Caxias, Reis comanda o clã à frente do município há quase uma década. Na campanha de 2024, levou Bolsonaro a Caxias duas vezes para comícios do sobrinho, Netinho Reis (MDB), eleito em primeiro turno.
Um acordo com Paes, contudo, pode colocar em 2026 Washington Reis do mesmo lado do presidente Lula, apoiador do prefeito.
Na semana passada, Reis disse que ficou sabendo da demissão pela imprensa, criticou o deputado estadual e citou ações tomadas enquanto esteve na secretaria.

Fonte: FolhaPress

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