
O protesto por anistia aos envolvidos na invasão aos três poderes em 8 de janeiro de 2023 que aconteceu, neste domingo (6), na avenida Paulista, em São Paulo, foi marcado por ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Organizador do evento, o pastor Silas Malafaia chamou o ministro Alexandre de Moraes de cínico e manipulador. Em um discurso exaltado, também criticou a imprensa, a delação do tenente-coronel Mauro Cid, as conclusões do inquérito e defendeu o ex-ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, que está preso, segundo ele, injustamente.
Nesse momento, o alvo de Malafaia passou a ser o Alto Comando do Exército, em tom de cobrança. “Cadê esses generais de quatro estrelas, do alto comando do Exército? Cambada de frouxos, cambada de covardes, cambada de omissos. Vocês não honram a farda que vestem. Não é para dar golpe, não, é para marcar posição”, afirmou.
Disse ainda que o presidente Lula (PT) é um mentiroso contumaz, e o público o acompanhou com xingamentos ao petista. Já o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) disse que Moraes é covarde e comparou o ministro Luís Roberto Barroso a um bandido.
“Ditadores de toga, principalmente como Alexandre de Moraes, se utilizou do dia 8 [de janeiro de 2023] para nos amedrontar. Se lascou, olha a gente aqui. Essa é a resposta para você, seu covarde”, afirmou o deputado. Em sua fala, o deputado reforçou seu apoio a Jair Bolsonaro (PL) e disse que o ex-presidente foi perseguido pelo STF.
“Para o debochado do ministro Barroso que falou ‘perdeu, mané’, primeiro, isso é uma fala de bandido quando vai roubar alguém. O que você está querendo dizer com isso, Barroso? Que nas eleições de 2022 nós fomos assaltados? É isso que você quer dizer? Porque, se for isso, fica em paz. Daqui a um ano e meio, tem eleições de novo”, afirmou Nikolas.
Durante uma viagem a Nova York, logo depois das eleições de 2022, Barroso disse “perdeu, mané” a um grupo de bolsonaristas que o hostilizava. O episódio voltou à tona quando a cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos pichou a estátua diante do STF com o dizer de Barroso, durante a invasão golpista, na praça dos Três Poderes.
Débora, que passou dois anos presa, tornou-se símbolo do projeto por Anistia. Moraes votou por condená-la a 14 anos de prisão, mas, no fim de março, concedeu a ela prisão domiciliar. Para a base bolsonarista, a condenação é um exagero.
Não à toa, o caso de Débora serviu de mote para o discurso da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro. Ela mostrou seu batom para as manifestantes, pedindo que todas segurassem a maquiagem.
“O batom que representa a Débora. A nossa Débora. Uma mulher comum, cabeleireira, se torna símbolo da luta pela justiça no nosso país. Amados, nós temos sofrido desde 2018, mas sabemos a nossa missão, o nosso propósito. Nós não iremos desistir”, afirmou Michelle, que reuniu no palanque diversos sacerdotes, incluindo um representante das religiões de matriz africana.
Entre as autoridades presentes, estavam o senador Sergio Moro (União Brasil) e a senadora Damares Alves (Republicanos), além de sete governadores: Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, Ratinho Jr. (PSD), do Paraná, Ronaldo Caiado (União), de Goiás, Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina, Mauro Mendes (União Brasil), de Mato Grosso, e Wilson Lima (União Brasil), do Amazonas.
Os quatro primeiros são cotados como presidenciáveis em 2026 diante do vácuo aberto pela inelegibilidade de Bolsonaro. Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro, chegou a ter a presença anunciada, mas não compareceu.
Mais cedo, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), se disse feliz em receber o ato na cidade e reforçou a pressão para que o projeto de lei sobre anistia aos golpistas seja votado e aprovado na Câmara.
“Eu queria voltar a repetir: quando se tem um ato de desumanidade, surge um ato de humanidade, que é o que está acontecendo aqui”, disse Nunes. “Eu sou do MDB. Como prefeito da maior cidade da América Latina, eu vou lutar com os deputados do meu partido para assinarem e apoiarem a anistia.”
Fonte: FolhaPress