
O plano de reestruturação anunciado nesta segunda-feira, 29, pelo presidente dos Correios, Emmanoel Schmidt Rondon, envolve três etapas de curto, médio e longo prazo, com a possibilidade de uma mudança na base societária da empresa. Na última sexta-feira, a empresa estatal conseguiu um empréstimo de R$ 12 bilhões para se reestruturar.
Segundo Emmanoel Schmidt Rondon, o plano será dividido em três partes:
- Recuperação de liquidez no caixa da empresa (curto prazo); com o uso dos recursos emprestados para cumprir compromissos e recuperar qualidade na operação, além do estabelecimento de metas de produtividade a partir de janeiro de 2026;
- Reorganização e modernização (médio e longo); com planos de demissão voluntária, revisão de planos de previdência, fechamento de unidades deficitárias respeitando o plano de universalização do serviço postal, venda de imóveis e modernização tecnológica da área logística;
- Modernização esquemática do negócio (longo prazo); com contratação de uma consultoria externa para avaliar novas possibilidades de rearranjo societário, como transformação da companhia de uma empresa estatal para uma de capital misto, a exemplo de outras como a Petrobras.
O plano de reestruturação será acompanhado por uma estrutura de governança própria já estabelecida. As áreas executivas responsáveis pelas mudanças apresentarão relatórios mensais a serem avaliados pelo Conselho de Administração da companhia, pelo CGPAR (Comissão Interministerial de Governança Corporativa e de Administração de Participações Societárias da União) e pelo Ministério das Comunicações.
Mudança societária
Sobre a mudança societária, Emmanoel Schmidt Rondon afirmou que a transformação em sociedade de capital misto público e privado é apenas um exemplo das possibilidades. “Tem exemplos em que não há sociedade de economia mista, mas há parcerias específicas para temas relevantes como negócios financeiros e seguridade”, disse.
A fala se alinha com discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já se manifestou firmemente contra a privatização dos Correios. “Enquanto eu for presidente não tem privatização. O que pode ter é construção de parceria com empresas. Eu sei que tem empresas italianas querendo vir aqui discutir com os Correios”, disse.
Entenda a crise dos Correios
A maior estatal de logística do país atravessa um de seus momentos mais delicados. Com um prejuízo acumulado de R$ 6,05 bilhões entre janeiro e setembro deste ano, os Correios enfrentam uma combinação de queda nas receitas e despesas em escala crescente. Déficits recorrentes desde 2022 já ultrapassam R$ 10 bilhões.
A deterioração das contas culminou na queda de Fabiano Silva. Integrante do grupo Prerrogativas e ligado ao PT, Silva pediu demissão em julho após meses de pressão.
Em sua defesa, o ex-presidente atribuiu o desempenho negativo da estatal à implementação da taxação de compras internacionais (popularmente conhecida como “taxa das blusinhas”), que teria reduzido drasticamente o volume de pacotes vindos do exterior — uma das principais fontes de receita da empresa nos últimos anos.
Desde setembro, a estatal está sob a liderança de Emmanoel Schmidt Rondon. Diferente de seu antecessor, Rondon possui um perfil focado no setor financeiro e é funcionário de carreira do Banco do Brasil.
A escolha sinaliza uma tentativa do governo de priorizar o saneamento contábil e a eficiência administrativa, buscando novas fontes de lucro para evitar que a crise se aprofunde ainda mais até o fechamento do balanço anual.
Fonte: IstoéDinheiro