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Brasilidade na moda: artistas, gringos e soft power dão novo status ao verde e amarelo

Ao longo das cerca de duas horas de sua apresentação na praia da Copacabana para mais de 2,1 milhões de pessoas, Lady Gaga bradou 30 vezes ‘Brasil!’, usou um look verde e amarelo e, claro, abriu uma grande bandeira brasileira no palco. O evento ganhou projeção global pelo tamanho do público e pela dimensão do espetáculo gratuito nas de uma das orlas mais famosas do mundo.

E foi um dos momentos de 2025 que ajudou a colocar o Brasil para o mundo não só como destino turístico, mas como referência em estilo e lazer. Um ano antes, a repercussão positiva do país foi por conta do também show histórico de Madonna no mesmo local, que reuniu 1,6 milhão de pessoas para ver sua The Celebration Tour, em comemoração aos 40 anos de carreira da rainha do pop. A repercussão das apresentações foi reforçada pela mídia espontânea com a divulgação da experiência em terras brasileiras por parte de seus bailarinos e outros parceiros de espetáculo.

Mais recentemente, outra artista também gerou muita mídia espontânea positiva para o país. Dua Lipa fez duas apresentações (São Paulo e Rio de Janeiro), mas sua passagem ficou marcada pela agenda nas horas vagas. A cantora literalmente vestiu a camisa do Brasil, foi ao estádio, ao Cristo Redentor, a uma escola de samba, comeu farofa e biscoito Globo, e marcou presença no boteco com direito a caipirinha e baralho. Tudo registrado para seus 11 milhões de seguidores nas redes sociais (entre Instagram e TikTok).

Mas o auge do país no mercado internacional foi mesmo em março, com o Oscar de Filme Estrangeiro para ‘Ainda Estou Aqui’, de Walter Salles. Os ‘gringos’ passaram a saber um pouco mais da parte histórica do país – ainda que uma de suas fases mais vergonhosas. E viram também a força do brasileiro nas redes sociais. O post da Academia com a indicação de Fernanda Torres ao prêmio de melhor atriz teve 1,2 milhão de curtidas. Para efeitos de comparação, a postagem com a indicação de Mikey Madison, que levou o prêmio como protagonista em Anora, não chegou a 80 mil.

Além do samba, praia e futebol

“Toda essa emergência de novos símbolos, novas referências, uma ampliação do repertório do que significa ser o Brasil, deixando de ser reconhecido apenas para aqueles códigos que são historicamente mais cristalizados, como futebol, samba, a praia, e passa a circular a partir de outros vetores culturais”, aponta Estela Brunhara, diretora de Consumer Behavior da FutureBrand São Paulo, consultoria de branding.

A consultoria acaba de divulgar a segunda edição de seu estudo sobre comportamento e tendências, o ‘Tá Quente, Brasil!’ e uma das conclusões foi que a ‘brasilidade está na moda’, tanto entre os brasileiros como internacionalmente.

Alguns dos principais pontos revelados pelo estudo:

Recorde de turistas

Um dos termômetros desse momento verde-e-amarelo está nos 9 milhões de turistas estrangeiros que o país recebeu em 2025, um recorde da série histórica iniciada em 1974. O número representa um crescimento de cerca de 35% em relação a 2024, quando 6,7 milhões de turistas de fora vieram para o país.

Recorde também na receita registrada com esse fluxo histórico, de mais de US$ 8 bilhões (cerca de R$ 45 milhões) contra US$ 7,3 bilhões em 2024. “É importante destacar que o turismo já representa 8% do Produto Interno Bruto (PIB)”, disse o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, ao comentar os dados.

A marca segue outro destaque no turismo do país este ano, vindo do World Tourism Barometer, da ONU Turismo, que apontou que o Brasil teve o maior crescimento turístico entre os principais destinos internacionais. Segundo a ONU, entre janeiro e setembro de 2025, o país registrou aumento de 45% nas chegadas internacionais, em comparação com o mesmo período de 2024. Com isso, ficamos à frente de destinos como Vietnã e Egito, Etiópia e Japão.

Ainda que não tenha sido motivo de para uma nova capa da revista britânica The Economist com o Cristo Redentor decolando, o Brasil esteve em alta – e com uma agenda positiva – na mídia internacional. 

“O cinema vem aparecendo muito forte. O ‘Ainda Estou Aqui’, foi um marco histórico, não só por ter conseguido vencer, mas mesmo antes dele conseguir vencer e ganhar o Oscar ali, teve toda uma mobilização cultural. Vemos outros produtos culturais também se destacando lá fora que conseguiram alcançar grande visualização, como a Psica, ou o filme Senna, que bombou bastante fora”, diz Brunhara.

Quem comemora o Brasil na moda é João Carlos Fernandes Brito, de 68 anos. Aposentado como servidor municipal do Rio de Janeiro, João percebeu esse movimento já no verão passado e criou uma sunga com a estampa da bandeira do Brasil. O sucesso foi tanto – entre brasileiro e gringos – que este ano ele dobrou a produção.

“Vendi tudo e depois continuei vendendo o ano todo. Mando para outros estados e só não exporto porque tem a burocracia e o custo, mas se fosse mais fácil, eu exportaria, porque tem pedidos do mundo todo”. Após um vídeo seu na praia vendendo a peça viralizar, chegando a mais de 6 milhões de visualizações, ele diz que tem estrangeiros que fazem encomendas da sunga a amigos que estão indo ao Rio de Janeiro. Cada uma sai por R$ 130.

De acordo com o 18º levantamento Observatório Febraban, pesquisa Febraban-IPESPE, divulgado em dezembro, 62% dos brasileiros creditam ao Brasil tem uma imagem internacional positiva, e 60% dos entrevistados avaliam que a imagem do Brasil melhorou.

Gringos, mas embaixadores do Brasil

Sempre associado ao tradicional combo carnaval-futebol-praia, lá em maio 2024 o país ganhou fama com um dos seus principais ativos culturais, mas com pouco reconhecimento internacional: a literatura. A tiktoker americana Courtney Henning Novak viralizou ao se encantar com o livro ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’, de Machado de Assis.

Courtney havia se desafiado a ler um livro clássico de cada país, se organizando por ordem alfabética. E logo na letra B ela ficou tão impactada com a obra que até hoje ainda a tem como o seu livro preferido. E não parou por aí. Ela leu outros livros brasileiros, aprendeu algumas palavras em português e atualmente assiste à novela Avenida Brasil, outro produto cultural tradicionalmente exportado pelo nosso país, mas que nunca conquistou os Estados Unidos. Seus perfis tanto no TikTok como no Instagram, claro, contam com a interação de milhares de brasileiros apaixonados.

Até políticos estrangeiros ajudaram a divulgar o país. Pouco antes da COP30, o presidente francês Emmanuel Macron visitou a Bahia e sua passagem por Salvador gerou memes e mídia sobre a hospitalidade baiana.

Presidente da França Emmanuel Macron com o Olodum no Pelourinho (Crédito:Crédito: Matheus Dias/GOVBA)

E mesmo quem ‘falou mal’ conseguiu engajar positivamente. O prefeito de Londres, Sadiq Khan, foi vítima da massa virtual verde e amarela ao criticar outro grande símbolo nacional, o guaraná, que ele considerou ‘horrível’.

A repercussão foi tamanha que a primeira-dama Janja da Silva chegou a enviar um novo exemplar do refrigerante para Khan e o levou a mudar de opinião, e se justificou dizendo que não tinha experimentado da forma correta – gelado. A ‘retratação diplomática’ rendeu mais de 20 mil curtidas, contra pouco mais de 1,4 mil do post de agradecimento ao Brasil pela hospitalidade durante sua passagem por Belém para a COP30.

“Um ponto que eu gosto muito de colocar é que a gente tá orgulhoso, sim, a gente tá sendo sentindo mais pertencimento sim, mas esse orgulho e esse pertencimento também vem um pouco pela validação externa. Essa autoestima como brasileiro em alta vem também dessa aprovação e do olhar de fora. Então, acho que o que a gente tem aqui, como futuro e como oportunidade, é e entender o quanto que essa energia coletiva se sustenta para além desse aplauso externo e ajuda a consolidar uma relação mais contínua do brasileiro com o próprio país”.

Fonte: IstoéDinheiro

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