Data Mercantil

Copo meio cheio ou meio vazio: veja como foi 2025 na economia em 7 gráficos

Com IPCA voltando para o teto da meta e desemprego em mínimas históricas, o que esperar para a economia em 2026?

Se perguntarmos para qualquer economista se a economia brasileira foi bem ou mal em 2025 a resposta será sempre a mesma: depende. Basicamente, alguns indicadores apresentaram ao longo do ano sinais claros de melhora. É o caso do PIB, que deve fechar o ano com crescimento acima da expectativa inicial do mercado, e da inflação, que ficou dentro da meta, porém, ainda longe do centro da meta. Por esse motivo, o Banco Central manteve a taxa de juros em patamares bastante elevados, gerando críticas do presidente Lula e do próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao logo de todo ano.

Haddad, inclusive, chegou a dizer que os indicadores da economia não estavam sendo reconhecidos pelo mercado e pela imprensa. Ele chegou a dizer que está muito difícil manter a relação com o mercado. De fato, alguns indicadores evoluíram, como mostram os gráficos abaixo, porém, outros ainda levam investidores e agentes do mercado a manter uma certa cautela.

O cenário para 2026 deve ser de queda da Selic e de acomodação das taxas em patamares menores. A IstoÉ Dinheiro conversou com os economistas-chefes do Inter André Valério, e do Warren, e Felipe Salto, sobre os motivos dos números bons em 2025 e as perspectivas para 2026.

Selic nas alturas

O ano de 2025 foi marcado por uma postura rigorosa do Banco Central para conter a inflação, levando a taxa Selic a patamares que não eram vistos há quase duas décadas. A trajetória foi de elevação acentuada no primeiro semestre, seguida por uma estabilização em níveis elevados durante a segunda metade do ano.

O câmbio elevado no início do ano e a inflação acima do teto da meta levaram o Copom a aumentar o rigor no controle para depois estabilizar a taxa. Além disso, as incertezas sobre o controle das contas públicas e o aumento da dívida pública elevaram os prêmios de risco, obrigando o Banco Central a manter sua política monetária contracionista.

Agora, as expectativas se voltam para o início de  2026. Algumas apostas apontam para o início do corte já em janeiro, mas há quem acredite que isso ocorrerá apenas em março.

PIB surpreende

Apesar de um aumento menor em comparação com os 3,4% de 2024, o crescimento Produto Interno Bruto (PIB) de 2025 deve atingir 2,25% de acordo com o mercado financeiro. O número é levemente acima do projetado em janeiro, que foi de 2,02%. Valério aponta que o crescimento foi “robusto”, mas que o terceiro trimestre mostrou uma “perda de força reflexo da política monetária”.

Prova disso é o Índice de Atividade Econômica (IPC-BR) do Banco Central que mostrou desaceleração de 0,2% em outubro em comparação a setembro. O último crescimento foi registrado em agosto. O índice é considerado a prévia do PIB.

No último levantamento, o destaque foi para o setor da agropecuária, que registrou crescimento de 3,1%. Indústria e serviços registraram baixas de 0,7% e 0,2%, respectivamente.

Desemprego bate mínimas históricas

Outra boa notícia de 2025 para a economia foi a taxa de desemprego. De acordo com o IBGE, ela ficou em 5,4% no terceiro trimestre do ano, menor valor da história para o período. Os destaques, de acordo com o Caged, foram os setores de Serviços, com 961.016 vagas criadas e a indústria, com  305.641 novos postos.

Salto explica que o mercado de trabalho apresenta uma dinâmica positiva por conta de um ganho de produtividade econômica e questões demográficas. “Para 2026, a tendência deste final de ano, como mostram os principais indicadores, deverá se manter”, aponta.

A perspectiva do mercado para 2026 é uma leve piora no quadro, que deve chegar a 6% no final do ano.

Inflação de volta pra meta antes do previsto

Os índices de inflação também apresentaram números melhores do que o previsto no começo do ano para a economia. De acordo com o Boletim Focus publicado em 10 de janeiro, a tendência era mais um ano com a inflação fora da meta, a 5% em 2025. No entanto, com o IPCA de 0,18% em novembro, a inflação em 2025 deverá voltar para dentro do teto da meta, a 4,46%.

Valério explica que a entrada na meta do BC estava prevista pelo mercado para o primeiro trimestre de 2026, mas que a política de juros altos do BC fez com que ela abaixasse antes da hora.

“Houve uma antecipação significativa do retorno da inflação para dentro do limite da meta. O Banco Central (BC), após o descumprimento da meta em junho, havia projetado que só conseguiria entregar a inflação dentro do teto da meta ao fim do primeiro trimestre de 2026”, explicou.

“A política monetária está gerando os efeitos pretendidos. Os juros estão bastante elevados, há bastante tempo, de modo que a atividade econômica e a inflação sentem esses efeitos. Além disso, o papel da taxa de câmbio foi central. A perda de valor do dólar, derivada da nova política econômica dos EUA, nos ajudou”, acredita Salto.

Os dois economistas ouvidos pela reportagem e o mercado financeiro não enxergam a inflação como um problema para 2026, mesmo com a queda de juros esperada para o começo do ano. “Os juros, mesmo com o Banco Central iniciando movimento de queda, logo, logo, ainda estarão em níveis elevados, tanto em termos reais como nominais”, encerrou Salto.

Dólar cai por conta de estratégia do governo Trump

Até o dia 19 de dezembro, o dólar já havia caído  10,49% em relação ao real em 2025. Os economistas ouvidos pela IstoÉ Dinheiro foram unânimes em afirmar que a queda da moeda norte-americana, que se repetiu na maioria dos países, se deve a estratégia do governo Donald Trump. O índice Dxy (que mede o valor do Dólar contra uma cesta de moedas) saiu de um patamar de 110 para 98, indicando uma grande desvalorização do Dólar frente a todas as moedas.

Na virada de 2024 para 2025 o dólar viveu um momento de disparada. Em 1° de janeiro o dólar comercial fechou o dia em R$ 6,18, mas ao longo do ano desenhou uma trajetória de queda já em fevereiro, já trazendo reflexos para a economia. Mas foi no dia 11 de novembro que a moeda americana bateu na mínima do ano, cotada a R$ 5,27. Já na última sexta-feira, 19, o dólar terminou o dia cotado a R$ 5,53. 

“O governo Trump tem utilizado essa reorganização para tentar melhorar a questão industrial americana, buscando trazer empregos industriais de volta, o que exige um Dólar mais enfraquecido”, explicou Valério.

Recorde do Ibovespa

O ano de 2025 também foi marcante para o Ibovespa, principal índice de ações da bolsa brasileira, por conta de diversas renovações de recordes.

O Ibovespa passou boa parte do ano em trajetória de alta, renovando recordes históricos e superando os 164 mil pontos pela primeira vez na história, refletindo um mix de fatores que voltaram a colocar o Brasil no radar dos grandes players  globais da economia. O mercado ainda acredita que há espaço para mais altas, por conta do preço baixo da bolsa brasileira.

“A gente tem muito espaço para avançar ainda. Um exemplo é que a bolsa chilena subiu 53% esse ano, contra 30% do Ibovespa”, afirmou Matheus Amaral, especialista em Renda Variável do Inter.

Amaral também reforça que a bolsa brasileira é “descontada” na comparação com os demais países emergentes, ou seja, ela é mais barata e entrega uma taxa maior de lucro, entre 9,5 e 10 vezes.

Contas Públicas

Os economistas acreditam que o calcanhar de Aquiles da economia brasileira é o fiscal. Apesar de defender o trabalho do Ministro da Fazenda Fernando Haddad nessa área, Salto afirma que o o déficit primário em 2026 ainda tende a ser relevante e não vê o governo agindo de forma relevante em ano eleitoral.

“Neste final de 2025, o governo correu atrás da aprovação de projetos, como o corte de benefícios tributários, para garantir alguma tranquilidade no ano que vem. Mesmo assim, não será fácil, porque a meta fiscal é bastante ousada para 2026: um superávit de R$ 34,3 bilhões”.

Valério acredita que o vencedor das eleições, qualquer que seja, precisará aprovar um novo arcabouço fiscal para 2027. “O atual modelo é insuficiente para garantir a convergência fiscal a longo prazo”, afirma.

Fonte: IstoéDinheiro

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