Data Mercantil

Polônia acusa Rússia por sabotagem em ferrovia e eleva alerta militar

O primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, afirmou nesta terça-feira (18) que a Rússia está por trás da sabotagem contra uma linha férrea que liga Varsóvia à fronteira com a Ucrânia, usada por passageiros e para enviar ajuda militar a Kiev.
Falando ao Parlamento em Varsóvia, o premiê disse que a polícia local identificou dois suspeitos da ação como sendo ucranianos que trabalhavam para serviços de inteligência russos, tendo sido condenados “in absentia” por um tribunal de Lviv, no oeste do país vizinho.
Segundo Tusk, ambos fugiram para Belarus, aliada de Moscou e rival da Polônia, após o incidente. O ramal entre a capital polonesa e a cidade de Lublin, de onde partem as remessas por linha férrea para a Ucrânia, foi atingido por um artefato explosivo no domingo (18). Ninguém ficou ferido.
O primeiro-ministro afirmou que determinou a elevação do alerta militar no leste do país, e que as Forças Armadas passarão a fazer a vigilância de ferrovias mais sensíveis.
Moscou ainda não se pronunciou sobre a acusação, que repete outras semelhantes feitas por Varsóvia no passado descartadas pelo Kremlin ora como paranoia, ora como propaganda contra a Rússia. Só no último ano, 55 pessoas foram presas na Polônia acusadas do crime.
“É talvez o mais sério incidente, no que diz respeito à segurança da Polônia, desde a invasão da Ucrânia [em 2022]”, afirmou o premiê. Ele não apresentou provas da ligação entre os suspeitos e a Rússia, contudo.
O incidente piora ainda mais a tensão entre o flanco leste da Otan, a aliança militar da qual a Polônia é um dos membros mais belicosos devido à sua posição geográfica exposta e histórico de agressão russa, e o governo de Vladimir Putin.
Em setembro, os russos direcionaram 20 drones que deveriam participar de um ataque ao oeste da Ucrânia por rotas diretas rumo ao espaço aéreo polonês, como a Folha de S.Paulo mostrou. O Kremlin nega a intenção, dizendo que os aparelhos voaram acidentalmente.
Varsóvia não comprou a desculpa e invocou a assistência da Otan, que logo criou uma nova operação de reforço do espaço aéreo em sua frente leste, enviando caças para apoiar o país.
A ação Sentinela Oriental tem sentido mais político, dado que é economicamente inviável empregar caças modernos de modo intensivo contra drones.
No caso de setembro, um caça americano F-35 da Holanda derrubou um drone usado como isca com um míssil AIM-9X, que pode custar até US$ 500 mil (R$ 2,6 milhões hoje), para derrubar um modelo Gerbera de US$ 10 mil (R$ 53 mil). Além disso, a hora-voo do F-35 custa US$ 40 mil (R$ 214 mil).
O clima está particularmente carregado na Polônia, que é o país da Otan que mais gasta proporcionalmente com defesa, acima de 4% de seu Produto Interno Bruto. Na segunda (18), o principal general do país disse que a Rússia, que recentemente fez exercícios em Belarus, está se preparando para a guerra com a aliança.
“O adversário está criando um ambiente visando uma agressão em território polonês”, afirmou Wieslaw Kukuła, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas locais. Em uma entrevista à Rádio Polskie, ele afirmou que o clima se parece com o de 1939, antes da invasão da Polônia por alemães e soviéticos que disparou a Segunda Guerra Mundial.
Segundo Kukula, ataques híbridos como sabotagem mostram que a “a Rússia está num estágio de pré-guerra”. Ele disse que se a linha for cruzada, contudo, será invocada a cláusula de defesa mútua da Otan, o que na prática poderia levar a um conflito generalizado com Moscou.
As acusações de sabotagem e avistamos suspeitos de drones se multiplicaram neste ano na Europa, naquilo que Putin qualificou de “histeria” dos líderes políticos do continente. Intercorrências como interceptações de caças de lado a lado, como a invasão do espaço aéreo da Estônia logo após a incursão de setembro, também elevam o risco de choques por erro de cálculo.

Fonte: FolhaPress

Sair da versão mobile