Eleitores vão às urnas nesta terça-feira (4) para eleger o novo prefeito da capital financeira do mundo; veja as diferenças em relação às eleições municipais no Brasil
Os nova-iorquinos vão às urnas nesta terça-feira (4) para escolher o novo prefeito da maior cidade dos Estados Unidos, em uma eleição que atrai os olhares do mundo.
O comando da cidade mais populosa dos EUA, com quase 8,5 milhões de habitantes, é disputado por três candidatos em 2025: o deputado estadual democrata Zohran Mamdani; o independente e ex-governador Andrew Cuomo; e o ativista republicano Curtis Sliwa.
Cuomo chegou a disputar as primárias do Partido Democrata em junho, mas, após perder para Mamdani, se lançou como candidato independente.
Portanto, além do tradicional antagonismo entre republicanos e democratas, a eleição deste ano é marcada por uma divisão no campo progressista entre Cuomo, de perfil mais centrista, e Mamdani, que defende uma plataforma socialista democrática.
O vencedor das eleições será responsável por gerir um orçamento robusto, de US$ 115 bilhões (equivalente a cerca de R$ 621 bilhões), e 300 mil funcionários municipais.
Não seria exagero dizer que governar a cidade de Nova York é um desafio à altura de liderar uma nação. Com um PIB de US$ 1,3 trilhão (equivalente a cerca de R$ 6,9 trilhões), ela estaria entre as 20 maiores economias do planeta se fosse um país.
Veja a seguir como funcionam as eleições na capital financeira do mundo.
Primárias e eleições gerais
Assim como nas eleições nacionais nos Estados Unidos, os partidos realizam a chamada eleição primária, uma votação interna para escolher quem será o candidato do partido na eleição geral.
Em Nova York, o Partido Democrata utiliza o sistema de votação por escolha ranqueada nas primárias. Os eleitores podem classificar até cinco candidatos em ordem de preferência.
Como a cidade tem maioria democrata, o candidato que ganha a primária do partido costuma se tornar o favorito para a eleição geral — e as eleições de 2025 devem manter a tendência.
Zohran Mamdani venceu as primárias por 12 pontos de diferença sobre Cuomo e diversas pesquisas de intenções de voto o apontam com uma vantagem de pelo menos 15 pontos percentuais sobre o ex-governador.
A última vitória republicana na prefeitura de Nova York foi em 2005, quando Michael Bloomberg foi reeleito. Bloomberg era democrata até 2001 e se tornou republicano para disputar o cargo. Em 2007, deixou o partido e concorreu à reeleição como independente, mas retornou ao Partido Democrata em 2018.
Se Bloomberg for desconsiderado, é possível dizer que Nova York não elege um republicano “convicto” desde Rudy Giuliani, em 1993.
A eleição geral para prefeito em Nova York tem apenas um turno. O candidato que conseguir mais votos será eleito.
Data e horário da eleição
Nos Estados Unidos, não existe um órgão nacional que padroniza as datas das eleições, cada cidade define seu próprio calendário.
Nova York escolheu manter suas eleições municipais em anos ímpares, após o pleito federal, para que o voto não se perca na polarização nacional das eleições presidenciais.
Diferentemente do Brasil, as eleições acontecem durante a semana. As primárias municipais são realizadas na última terça-feira de junho. E as eleições gerais (General Election Day) acontecem na primeira terça-feira de novembro.
Há uma discussão, inclusive, sobre como a realização de eleições em dias de semana pode afastar o eleitorado menos abastado dass urnas, já que muitos não conseguem licença para faltar ao trabalho.
Os locais de votação ficam abertos das 6h às 21h, do horário local (8h às 23h do horário de Brasília).
Votação antecipada em Nova York
Desde 2019, os nova-iorquinos têm a opção de fazer a votação antecipada (early voting).
Durante um período de nove dias consecutivos, que se encerra no domingo anterior à eleição — neste caso, no dia 2 de novembro — é possível votar presencialmente em locais definidos pela Comissão Eleitoral da cidade.
Assim como nas eleições presidenciais, o voto também é facultativo no pleito municipal. Mesmo assim, a antecipação de votos neste ano foi a maior já registrada para eleições municipais em Nova York: 735 mil pessoas recorreram à modalidade para depositar seu voto previamente.
Os eleitores também podem recorrer ao chamado voto ausente (absentee voting), válido para cidadãos que estão fora da cidade ou do país, que não podem comparecer fisicamente ou que simplesmente preferem votar de casa.
Nesse caso, a cédula é solicitada antecipadamente, pela internet ou pelo correio, é preenchida e entregue pessoalmente ou por correio até o dia das eleições.
Cargos em disputa em Nova York
As eleições municipais em Nova York se diferenciam do Brasil também pela complexidade.
Os eleitores não votam apenas para prefeito e vereador, como no Brasil. Nos Estados Unidos, secretários municipais e juízes locais também são eleitos pelo voto popular, assim como os representantes distritais.
Além do prefeito, os eleitores nova-iorquinos também vão eleger o Public Advocate — o número dois na hierarquia da prefeitura, equivalente ao vice-prefeito no Brasil — e o City Comptroller — que atua como um Secretário Municipal da Fazenda.
Esses são os cargos citiwide, cuja jurisdição abarca toda a cidade.
Mas os eleitores também votarão em representantes para os seus respectivos distritos, equivalentes a subprefeitos.
A cidade de Nova York se divide em cinco distritos (boroughs):
- Manhattan, com 1,661 milhão de habitantes;
- Brooklyn, com uma população de 2,618 milhões de habitantes;
- Queens, com 2,317 milhões de habitantes;
- Bronx, com 1,385 milhão de habitantes;
- e Staten Island, com 498,2 mil habitantes;
Os cidadãos votam ainda para eleger juízes que atuam na Suprema Corte e no Tribunal Cível do seu distrito, o City Council Member, que seria como um vereador no Brasil, e em propostas voltadas à política local.
Neste ano, por exemplo, os eleitores de da cidade de Nova York devem votar se aprovam ou rejeitam um projeto que prevê ampliação de moradias de baixo custo na cidade.
Resumindo, é como se o eleitor votasse para prefeito, vice-prefeito, secretário da Fazenda, subprefeito, vereador e juízes que representam sua região e ainda participasse de plebiscitos sobre projetos de lei municipais.
Principais temas na eleição de Nova York
Entre os temas mais importantes do atual pleito em Nova York estão: o custo de vida, acesso à moradia, segurança pública, imigração e tarifas municipais.
Fazer a cidade mais cara dos Estados Unidos mais acessível para a classe trabalhadora foi um assunto extremamente debatido durante as campanhas. E habitação é um dos pontos mais críticos em relação ao custo de vida: em agosto de 2024, o aluguel médio de um apartamento na cidade era de US$ 3.425, um aumento de US$ 76 em comparação com 2023.
A cidade de Nova York é considerada uma das cidades mais diversas do mundo, com residentes que falam mais de 200 idiomas.
Em um local cuja força de trabalho é amplamente composta por estrangeiros, as políticas anti-imigração defendidas pelo governo de Donald Trump também têm gerado amplos debates entre os moradores.
Outros temas de destaque foram a islamofobia e o antissemitismo. Nova York é o lar da maior comunidade judaica do mundo fora de Israel, com 955 mil judeus, segundo a Federação Judaica de Nova York.
A cidade também possui uma ampla população muçulmana, que até 2018 era estimada em 800 mil pessoas, segundo o Instituto para Política e Compreensão Social.
O candidato favorito, Zohran Mamdani, pode se tornar o primeiro prefeito muçulmano da história da cidade, e suas duras críticas a Israel geraram uma divisão na comunidade judaica de Nova York e renderam críticas de opositores sobre antissemitismo.
Quando serão divulgados os resultados?
O Conselho Eleitoral da Cidade de Nova York afirma que os resultados podem sair tanto no mesmo dia quanto apenas depois de algumas semanas.
O órgão acrescenta que pode receber cédulas de votos ausentes enviadas por correio até sete dias após o dia da eleição. Portanto, os resultados de algumas disputas podem não ser conhecidos até que todas as cédulas sejam recebidas.
Mas, nas eleições presidenciais de 2024, os resultados de alguns distritos foram divulgados às 21h03, no horário local (23h03 no horário de Brasília), e metade da apuração estava concluída às 21h16 (23h16 de Brasília). Por volta das 23h (1h de Brasília), cerca de 90% dos votos já haviam sido contados.
Em uma disputa não muito acirrada — como deve ser o caso neste ano — o prefeito deve ser conhecido no mesmo dia da votação, logo após o fechamento das urnas.
Mas o resultado oficial só é certificado depois que todas as cédulas enviadas pelo correio chegarem, o que pode demorar alguns dias.
Fonte: CNN