Data Mercantil

Inflação está muito abaixo do que se temia no começo do ano, diz economista-chefe do JPMorgan

Na avaliação da economista-chefe do JPMorgan para o Brasil, Cassiana Fernandez, a inflação se tornou uma variável menos preocupante na conjuntura econômica atual, especialmente comparando com o início do ano de 2025 – cenário que corrobora a tese da casa de um corte de 25 pontos base (bps) na Taxa Selic ainda em dezembro.

Ao Dinheiro EntrevistaCassiana Fernandez comenta que, em partes, isso se dá pela retração na cotação do dólar, dado que a moeda estava na casa dos R$ 6 há meses atrás e atualmente opera na faixa dos R$ 5,30, reduzindo drasticamente a pressão do câmbio na inflação.

“Percebemos isso tanto na dos bens, os transacionáveis de uma forma geral, mas também em alimentação. Todo mundo que acaba sofrendo mais esse repasse cambial benéfico. Quando a gente estava no final do ano passado com dólar acima de R$ 6, o medo era muito maior, e agora com dólar a R$ 5,30, a preocupação é menor nessa parte, onde [a inflação] ainda é muito resiliente”, analisa.

dólar tem perdido força globalmente, estando em apreciação ante poucas moedas das principais economias globais. O DXY, que mensura a força do dólar ante uma cesta de moedas, cai cerca de 10% no acumulado de 2025 até então.

A especialista ainda recorda que há cerca de três meses atrás o mercado precificava uma inflação consideravelmente elevada, com NTN-Bs (títulos de renda fixa que remuneram o investidor com a variação da inflação) rodando acima de 7%.

“Você tinha o consenso do mercado, no [Boletim] Focus em 6% para esse ano e acabou surpreendendo de uma forma bastante significativa. Hoje o Focus está em 4,8%. Você acabou tendo uma surpresa benéfica para a inflação esse ano. Ela foi muito abaixo do que se temia no começo do ano, e um dos fatores para isso foi a taxa de câmbio.”

Acerca dos dados de inflação mais recentes, Fernandez aponta que uma das surpresas positivas da última leitura da prévia de inflação (IPCA-15) foi o núcleo de serviços, que ‘continua muito forte’ e é uma resposta natural dentro de um mercado de trabalho que continua aquecido.

“Tem aí um fator específico na parte de seguros de automóveis, mas mesmo se você tirar isso, acho que para para a gente o grande destaque da leitura do IPCA 15 acabou sendo a surpresa em relação às nossas projeções na parte do núcleo inflação, mostrando uma desinflação mais robusta, uma tendência desinflação mais confiável para a frente.”

Apesar disso, frisa que os dados recentes de desemprego – nas mínimas históricas – não necessariamente traduzem uma economia a plenos pulmões.

A visão é de que a economia brasileira tem ‘testado’ a importância de todas as reformas que foram aprovadas desde 2016, incluindo a própria reforma trabalhista.

“A gente possa talvez, sim, ter uma percepção que o mercado de trabalho está aquecido, mas talvez não esteja tão aquecido, porque a nossa taxa de desemprego neutra, que é aquela que não aumenta e nem diminui a inflação, talvez seja um número mais baixo ainda a ser verificado.”

Leitura da inflação de setembro deve mostrar ‘reversão’ no grupo de habitação

Acerca da leitura de IPCA a ser divulgada nesta quinta-feira, 9, Fernandez avalia que espera uma certa reversão no grupo de habitação, dado que na leitura anterior, referente ao mês de agosto, foi visto um impacto atrelado ao desconto dos preços de eletricidade.

No caso do grupo de alimentação, por conta do cenário global de preços, commodities e taxa de câmbio, a expectativa é de uma perpetuidade na desinflação – endossando os prognósticos da casa, que são mais otimistas do que a média do mercado.

A projeção do JPMorgan é de um IPCA de 4,7% para este ano e de 3,6% para o ano de 2026.

Corte da Selic ainda neste ano

Na contramão do consenso do mercado financeiro e apesar de um Banco Central (BC) que tem falado em juros altos ‘por período bastante prolongado’, o banco projeta um início de ciclo de cortes ainda neste ano, na reunião de dezembro.

A expectativa é de uma redução de 0,25 ponto percentual (p.p.), jogando a Selic para 14,75%, com o ciclo continuando em 2026, fechando o ano com juros básicos em 10,75%.

Assim, a expectativa é de que a autoridade monetária ajuste sua comunicação já em novembro, em uma mudança de postura para iniciar a flexibilização monetária.

“Acho que tem uma série de fatores que levariam esse cenário. O primeiro deles é do lado da economia global. A continuação da tendência de enfraquecimento do dólar abre espaço para uma apreciação da moeda e redução da inflação de bens comercializáveis. A gente também tem a perspectiva de um número de preços mais baixos na parte de commodities de uma forma geral, principalmente o preço de petróleo do ano que vem, o que levaria uma inflação mais baixa aqui no Brasil”, explica.

A tese é de que tanto os patamares restritivos dos juros quanto uma aceleração do impulso fiscal também abrem espaço para a desaceleração da economia brasileira.

“Acho que isso já vem acontecendo, você já tem números que mostram isso.”

A respeito dos números do mercado de trabalho, a visão é de que já há certa desaceleração, todavia o processo ‘nunca é homogêneo’, fazendo com que os indicadores mais globais ainda não reflitam isso.

Inflação mais baixa com enfraquecimento do mercado de trabalho já abre espaço para o Banco Central começar o início de corte de juros já no final do ano. Acho que é importante enfatizar que, se não encontrarmos essas condições ainda em dezembro, você pode sim ter um atraso no início do corte de taxa de juros, mas você abre espaço para um corte maior ao longo de 2026″, conclui a economista-chefe do JPMorgan.

Fonte: IstoéDinheiro

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