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Ticky: o que está por trás do ‘pirulito da Antonela Braga’ que vendeu 500 mil unidades em 48h

Meio milhão de pirulitos vendidos em 48 horas. Foi isso que a Ticky conseguiu ao chegar no mercado há cerca de um mês atrás, segundo informam os criadores da empresa. O principal motivo para isso, todavia, não veio da marca em si – que até então ninguém sabia da existência – ou do produto, mas do rosto que apareceu nas redes sociais nas campanhas: o de Antonela Braga.

Com 16 anos feitos há algumas semanas, Antonela Braga é sócia e embaixadora da Ticky. A influenciadora possui 8,6 milhões de seguidores no TikTok e 3,8 milhões de seguidores no Instagram. Com centenas de publicações e uma imagem já influente em ambas as redes, Antonela atraiu ainda mais holofotes neste ano após uma polêmica dentro do grupo de jovens influenciadores o qual estava inserida – o caso envolveu Duda Guerra, namorada de Benício Huck, que é filho de Angélica e Luciano Huck.

De olho no alcance digital e no que consideram comprometimento da jovem, os idealizadores da Ticky  fecharam uma parceria com ela e a trouxeram para o quadro societário da empresa, tal como para estrelar as campanhas e ser a front face da marca.

O ‘pirulito da Antonela Braga‘ é sem açúcar e promete, inclusive, reduzir a dependência em cigarros eletrônicos – proibidos, mas ainda populares dentre os jovens.

Pirulito de R$ 56

Recém chegado no mercado, o produto passou então a ser vendido do jeito mais inusitado possível – pela internet. Um pack de pirulitos – único jeito de comprá-los – custa R$ 56, contendo 16 unidades. Além disso, é necessário pagar o frete, que pode ter um preço igual ou superior ao do produto, a depender da região.

Contrariando essas adversidades, os pirulitos Ticky tiveram 500 mil unidades vendidas em dois dias, segundo contou à IstoÉ Dinheiro Santiago Vieira, sócio fundador e idealizador da marca. Depois disso, a marca dobrou o estoque e novamente vendeu tudo em uma janela de uma semana.

“Começamos operação no pior canal possível. É um produto de conveniência. Lançamos no site, a pessoa precisa pagar frete e esperar dias, mas mesmo assim o sucesso foi estrondoso. No momento atual não temos estoque e estamos aguardando a produção. Vendeu muito e vem vendendo muito”, afirma Vieira.

A escolha do pirulito, em específico, veio para sanar uma lacuna no mercado, em partes. Se fosse mais um pirulito comum, com açúcar e sem o apelo de branding da Ticky, seria mais difícil escoar o produto para varejistas – algo que a marca ensaia fazer muito em breve.

Contudo, por ser um pirulito sem açúcar, o produto passa a se enquadrar no que o varejo chama de hard to find – produtos escassos na prateleiras, que são mais atrativos para lojistas justamente por não terem diversos pares iguais nas lojas.

Além disso, Santiago Vieira também conta que a contribuição de Antonela para a marca não é restrita ao uso de sua imagem e de seu alcance nas redes.

“Foi importante para nós [sócios fundadores] ouvirmos a Antonela, que é uma pessoa mais jovem, ouvir o público dela. Ela entende muito bem o público com qual ela comunica. Ela foi nossa porta-voz”, diz.

“Vínhamos observando ela e, sempre fez muito sentido, ela é uma menina muito preparada para a idade dela. Profissionalmente ela é muito madura, e ela furou todas as bolhas. Ela não atinge mais só as pessoas teen“, completa.

Sobre a imagem e a responsabilidade em uma idade tão precoce, relata que a família da influenciadora é ativa nas decisões.

“Não há problema ela ser menor de idade para ser sócia, na prática temos alguma interferências da família, mas são interferências positivas. Principalmente da mãe, que diz como a Antonela deve ou não estar. A mãe dela é bastante preocupada com a imagem dela”, completa.

Além de Santiago e Antonela Braga, integra a sociedade também Gregorio Kelnel, amigo de infância do primeiro.

Santiago possui know-how no ramo de eventos, dado que é CEO e sócio-fundador na Nosso, camarote da Sapucaí, no Carnaval do Rio de Janeiro, que é referência em hospitalidade e possui relacionamento com grandes marcas e personalidades.

Sócios da Ticky; da esquerda para a direita: Gregorio Kelnel, Antonela Braga e Santiago Vieira (Crédito:Divulgação/Ticky)

Os primeiros passos da marca começaram há cerca de um ano atrás, e no mês de agosto de 2025 as primeiras peças publicitárias passaram a ser veiculadas e os produtos passaram a ser vendidos.

A maior fatia das vendas feitas até então ficou concentrada no Sudeste, especialmente em São Paulo – apesar de Antonela ser natural do Rio de Janeiro. “Mas tivemos vendas para o Acre também, que tiveram frete na casa dos R$ 40, tamanha a demanda”, conta do fundador.

Com estoques zerados e uma demanda aquecida, a companhia projeta chegar em eventos e grandes varejistas nos próximos meses. “Quando o estoque regularizar, vamos estar em todas as prateleiras. Já temos pedidos de vários varejistas e vamos vender no atacado. Só precisamos regularizar o estoque”, conta Santiago.

A marca não abre números referentes ao faturamento nem percentual das fatias de cada sócio, entretanto as vendas já estão na casa das dezenas de milhões – dado que somente os 500 mil pirulitos vendidos em dois dias representam uma receita bruta de R$ 28 milhões, considerando o preço de prateleira de R$ 56.

‘A voz ouvida pela Geração Z’

A escolha de Antonela também toca em um outro ponto dos planos de negócios da empresa – o seu público-alvo. Como a promessa do produto, em partes, é reduzir a dependência de cigarros eletrônicos – vape ou pod -, a influenciadora acaba se tornando uma voz ativa justamente para pessoas com menos de 30 anos.

Além disso, o produto vai no embalo de uma tendência de mercado relevante que ganhou protagonismo nos últimos anos – o de produtos mais saudáveis, voltados para performance e com foco na Geração Z.

Esse mercado já fez gigantes do ramo alimentício aumentarem seu portfólio e desenharem novas estratégias, desde a Nespresso, que lançou cafés com vitaminas e entrou na onda das coffe parties, a Kopenhagen, que lançou uma linha que é exclusivamente de chocolates saudáveis.

“A ideia veio muito por essa demanda da Geração Z,  dessa mudança de consumo para hábitos mais saudáveis. Apesar de vermos uma crescente de vapes, vemos por um outro lado uma grande parte da geração tentando ter hábitos mais saudáveis, curtindo mais o dia e menos a noite. Vimos aí um gap“, conta Santiago.

Ticky quer ir além de pirulitos

O empresário relata, em primeira mão à IstoÉ Dinheiro, que nos próximos meses a companhia deve lançar dois novos produtos – ainda na mesma linha, sendo pirulitos. Todavia, a marca enxerga um leque mais amplo dada a demanda por produtos saudáveis e sem açúcar. Assim, a Ticky se declara uma empresa de snacks saudáveis e quer aumentar o portfólio.

Divulgação/Ticky

De imediato, os planos são de aumentar a operação fabril. A produção é terceirizada para uma fábrica em São Paulo cujo um galpão inteiro será reservado para produzir apenas os pirulitos nos próximos meses.

Pirulito x vape

Apesar da promessa de reduzir a dependência no cigarro eletrônico, não há evidências científicas robustas que apontem que o pirulito como suficiente para reduzir ou cortar a dependência em nicotina e sintomas como ansiedade e irritabilidade – diferentemente de métodos como a terapia de reposição de nicotina, com adesivos ou gomas de mascar.

Contudo, o hábito pode funcionar como um ajuste comportamental, sanando a necessidade momentânea de levar algo à boca, ajudando a aliviar alguma parte do desejo psicológico.

Especialistas em cessação de tabagismo frequentemente recomendam estratégias de manter a boca ocupada, como mascar chicletes, beber água gelada ou consumir vegetais crocantes.

Um estudo publicado na New England Journal of Medicine com fumantes com diferentes níveis de dependência analisou o comportamento de quem recebeu gomas de nicotina (2- ou 4-mg) ou placebo, combinado com aconselhamento em grupo.

As taxas de abstinência foram significativamente maiores nos grupos com goma de nicotina, embora as gomas sem nicotina também tenham mostrado uma taxa de abstinência expressiva.

Aditivo proibido na Europa, mas aprovado pela Anvisa

Um dos sabores de pirulito, o de algodão doce, possui na sua composição o dióxido de titânio, ou E171 – uma substância que ainda suscita debate na academia e dentre os reguladores.

O dióxido de titânio é um corante branco que dá opacidade e brilho a alimentos como balas, chicletes, e outros confeitos e até produtos de panificação.

Em meados de maio de 2021 a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) publicou uma reavaliação do E171 e decidiu que a substância não poderia mais ser considerada segura por conta dos possíveis efeitos genotóxicos (danos ao DNA).

Em outubro de 2021, a Comissão Europeia adotou a decisão de banir o E171, com a proibição oficial entrando em vigor em fevereiro do ano seguinte.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permite o uso da substância, que pode ser encontrada em doces e chicletes.

A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC, na sigla em inglês), uma agência da OMS, classifica a substância como ‘possivelmente cancerígena’, rotulada no Grupo 2B – ficando na posição do meio da escala de avaliação dos especialistas, ainda atrás de ‘cancerígeno’ (Grupo 1) e ‘provavelmente cancerígeno’ (Grupo 2A).

Um estudo de uma universidade chinesa publicado na Food and Chemical Toxicology também sugere que o aditivo pode provocar alterações hormonais e propensão a desenvolvimento de obesidade e diabetes tipo 2.

Santiago Vieira, da Ticky, aponta que a empresa prioriza ‘matéria prima nobre’, usa baunilha é Bombay e usa stevia como adoçante – que é uma opção menos prejudicial à saúde. Atualmente a empresa é assessorada por acadêmicos do curso de nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Fonte: IstoéDinheiro

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