
Em meio à relação bastante conflagrada com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), o governo Lula está recorrendo a um interlocutor improvável na tentativa de ver os assuntos de seu interesse avançarem: o deputado Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da casa e relator da reforma do Imposto de Renda, proposta considerada prioritária para o Palácio do Planalto.
Enquanto digere os movimentos feitos por Motta que derrubaram o decreto que aumentava o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e até a falta de retorno dos telefonemas feitos ao presidente da Câmara, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem se dedicado a elogios ao antigo ocupante da cadeira.
Haddad tem feito questão de afagar Lira. Ao falar do relatório do deputado, a ser apresentado em breve, o ministro procurou disse a jornalistas que já sabe do conteúdo, mas que não gostaria de tirar de Lira o brilho do anúncio. “Não quero adiantar, pois fica indelicado. Já conheço os termos, mas cabe a ele fazer o anúncio”, disse o ministro, enfatizando que a conversa com o ex-presidente da Câmara se dá em “altíssimo nível”.
Os elogios de Haddad a Arthur Lira contrastam com o estado atual da relação com Hugo Motta. Se Lira é famoso no meio político por ser “cumpridor de acordos”, sejam eles de qualquer natureza, Motta, no episódio do IOF, ganhou a pecha de traidor perante os aliados de Lula, que o acusaram de não ter respeitado o prazo para que o governo apresentasse alternativas de arrecadação diferentes do aumento nas alíquotas do imposto.
Na semana passada, nos bastidores parlamentares governistas expressavam, sob reserva, certa “saudade” de Arthur Lira – o que, aliás, irritou Motta ainda mais. Os afagos ao deputado alagoano são, de certa forma, curiosos porque quando ele estava na presidência da Câmara as queixas também eram recorrentes – governistas reclamavam, por exemplo, de seu apetite por cargos e da forma como ele, um dos principais próceres do Centrão, tratava demandas cruciais para o Planalto.
Relatório de Lira a caminho
Arthur Lira deve apresentar ainda nesta semana seu parecer para o projeto do governo que prevê a isenção de Imposto de Renda para pessoas que ganham até R$ 5 mil. A apresentação do relatório do deputado estava marcada para a semana em que foi votada a derrubada do IOF, mas ele preferiu adiar a entrega, alegando falta de clima para a discussão.
Quanto à isenção do IR para as camadas mais populares, há consenso. O relatório de Lira será a favor da proposta do governo. Em relação às compensações para contrabalançar essa isenção sem causar maiores prejuízos às contas públicas, Lira tem mantido segredo.
Nesse meio tempo, ele tem acolhido pedidos de diferentes tendências políticas na Câmara. O seu partido, o PP, por exemplo, ainda pressiona pela elevação da CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido) para os bancos e defende poupar as empresas de tecnologia, as chamadas fintechs, desse aumento.
Apesar de o texto ainda não ter sido divulgado, aliados do deputado dizem que a questão da compensação das perdas para os municípios, um ponto de conflito com o governo, já foi resolvida.
Fonte: PlatôBr