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Ameaçada por Trump e recessão, Alemanha anuncia novo governo

A Alemanha tem um novo governo. Conservadores da aliança CDU/CSU e sociais-democratas do SPD confirmaram que chegaram a um acordo de coalizão 45 dias depois das eleições parlamentares. Friedrich Merz, 69, deve ser eleito primeiro-ministro em 7 de maio.
Itens que pareciam intransponíveis até a semana passada, como imigração e previdência, ganharam solução rápida diante da guerra comercial precipitada por Donald Trump, que atinge a União Europeia com tarifas de 20% sobre todos os seus produtos e 25% sobre aço, alumínio e carros. Maior exportadora do bloco, a Alemanha vive uma situação dramática, na descrição do futuro premiê.
Antes considerado um dos políticos mais pró-EUA da Europa, Merz já classificou a administração Trump de não confiável e gastou capital político para aprovar o maior pacote de estímulo da Alemanha desde a reunificação ainda no Parlamento antigo. A manobra, que prevê gastos sem precedentes em defesa e € 500 bilhões (R$ 3,28 trilhões) para atualizar a infraestrutura do país pelos próximos dez anos, foi projetada para diminuir a dependência alemã dos EUA e fazer frente ao novo cenário geopolítico europeu.
O nome de Merz decolou no noticiário internacional, fez a bolsa disparar e ainda mexeu com o mercado de títulos públicos, em que o Bund, o papel alemão, é referência. No cenário doméstico, no entanto, o pacote foi recebido com ceticismo por políticos e agentes financeiros. Encerrar décadas de austeridade, marca de Angela Merkel, rival política de Merz no partido democrata-cristão, teve um custo de popularidade.
Nesta semana, pela primeira vez, a AfD, o partido de extrema direita da Alemanha, superou a CDU numericamente nas pesquisas eleitorais, que são realizadas semanalmente no país. Segundo levantamento da Ipsos, a legenda populista de Alice Weidel, que tem membros investigados por discurso de ódio e neonazismo, alcança 25% das preferências, contra 24% da sigla de Merz.
Reverter a tendência não será tarefa fácil, já que as soluções da coalizão não trarão respostas imediatas. O choque tarifário de Trump apenas piora as coisas. A perspectiva para a economia alemã neste ano é de crescimento de apenas 0,1%, contra 0,8% da previsão anterior, divulgada em setembro de 2024. O país caminha para o terceiro ano de recessão, algo que nunca aconteceu na história.
A divisão de ministérios já indica que Merz quer levar adiante algumas de suas promessas de campanha, como a modernização da burocracia do país e o estímulo ao crescimento. A CDU deve ficar com as pastas de Economia, Relações Exteriores, Transporte e Digitalização do Estado. O SPD deve permanecer na Defesa, com Boris Pistorius, o nome mais popular do partido, Finanças e Meio Ambiente.

Fonte: FolhaPress

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