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Tokenização e música: como é investir nos royalties das composições de Maiara e Maraisa

O catálogo de 00 da dupla sertaneja Maiara e Maraísa virou investimento. A operação realizada pela Hurst Capital possibilita investir e ter retorno com os royalties musicais das canções. O procedimento, já feito com obras de outros artistas, foi concretizado com as canções compostas pela dupla neste mês de agosto.

Royalties são as remunerações para quem tem direitos autorais sobre um item feitos após o uso daquele bem. No caso das músicas, são pagos royalties aos compositores após reproduções em streaming e execuções públicas. Intérpretes também tem direito ao pagamento caso suas versões sejam utilizadas.

Para o artista, a principal vantagem é a antecipação de caixa para investir em outros produtos financeiros ou em novos projetos. Questionada, a assessoria das cantoras Maiara e Maraisa não informou os planos para o dinheiro arrecadado com a comercialização de seu catálogo de composições. O valor da operação tampouco foi divulgado.

O aporte mínimo para aplicações em royalties musicais pela Hurst Capital é de R$ 10 mil. O investidor passa então a receber mensalmente parcelas proporcionais ao valor investido, desde que o ativo gere pagamento de royalties. É possível também revender frações menores do investimento no mercado secundário.

Tokenização

A Hurst Capital utiliza a tecnologia blockchain, a mesma utilizada em criptomoedas como o bitcoin, para tokenizar os royalties musicais. Em outras palavras, eles viram tokens, ou seja, viram itens portadores de um certificado digital e podem ser vendidos dentro da plataforma da empresa.

É a tokenização que possibilita um mercado secundário para revender os royalties dentro da própria plataforma da Hurst. O processo torna possível inclusive vender frações menores do investimento de R$ 10 mil, pelo valor acordado por quem realizar a venda.

A venda dos royalties pode ser definitiva ou por um período pré-determinado. No caso das sertanejas, terá um prazo de 360 meses. É possível ingressar no investimento pelo mercado primário pelo tempo em que houver cotas disponíveis, ou posteriormente pelo mercado secundário.

A empresa também transforma em tokens comercializáveis outros produtos de investimento como ativos judiciais, imobiliários e crédito empresarial.

Retorno e riscos

Segundo a Hurst Capital, duas operações já encerradas do compositor Cecílio Nena – compositor de sucessos sertanejos como “Temporal do Amor” e “Anarriê”, gravadas por Leandro e Leonardo – tiveram retornos de 32,80% ao ano e 33,84%. O retorno de procedimentos passadas, no entanto, não garante ganhos nos novos.

“O principal risco é a quantidade de reproduções das músicas ser menor que o esperado, impactando a receita”, afirma Ana Gabriela Mathias, COO da MUV, empresa de investimento em royalties de música e cinema que integra o ecossistema da Hurst Capital.

A advogada Daniela Poli Vlavianos, sócia do escritório Poli Advogados & Associados, destaca que o mercado de música tem alto risco, por ser extremamente imprevisível e volátil. “O valor dos royalties pode flutuar consideravelmente com as mudanças nas tendências, o sucesso de artistas e músicas específicas, e as evoluções tecnológicas.”

A queda de popularidade de um artista pode assim ter impacto direto sobre os ganhos, assim como o surgimento de inovações tecnológicas que mudem o modo de consumo de música. Sair do investimento também é difícil, já que a maneira seria revender o token comprado no mercado secundário.

O investimento pode ainda sofrer impactos por conta dos diversos agentes envolvidos no pagamento dos royalties, como gestores de direitos, distribuidores e plataformas de streaming. “Problemas operacionais, financeiros ou legais enfrentados por esses intermediários podem impactar negativamente os rendimentos dos royalties”, diz Vlavianos.

Alterações na legislação de direitos autorais são outro risco, assim como mudanças em outras regulamentações relacionadas ao consumo de música e distribuição de royalties. Por fim, há o perigo da obra se ver envolvida em litígios que questionem os direitos autorais.

Outros artistas já venderam catálogo a plataforma

A dupla sertaneja não é a primeira a vender os direitos de seus royalties musicais a Hurst Capital. O primeiro foi o pianista e compositor João Luiz de Avellar, em 2020. Apenas em 2024, outros quatro catálogos entraram para a plataforma de negociações de ativos.

Neste ano, o primeiro negócio envolveu o empresário Boni, nome célebre da Rede Globo. O portfólio vendido por ele incluía a música tema do Fantástico e outros sucessos na emissora. O valor arrecado com a venda foi de R$ 860 mil.

Em parceria com a empresa estadunidense ANote Music, a Hurst Capital também disponibilizou um catálogo internacional que incluia músicas gravadas por Beyoncé de Justin Bieber. O compositor de piseiro Kadu Martins completa as operações feitas no ano.

Fonte: IstoéDinheiro

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