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Acadêmicos divulgam carta de apoio a levantamento que contesta vitória de Maduro

Um grupo de quase 20 acadêmicos e pesquisadores especializados no estudo das democracias e da integridade eleitoral assinou uma carta em apoio à ONG AltaVista que apontou a vitória do candidato de oposição Edmundo González na eleição presidencial da Venezuela em um levantamento baseado em amostragem e a outras pesquisas independentes sobre a votação.
O CNE (Conselho Nacional Eleitoral) proclamou a reeleição de Nicolás Maduro na madrugada do dia seguinte à votação. Segundo o órgão, com 80% das urnas apuradas, o ditador tinha vencido com 52% dos votos, contra 43% de González a entidade confirmou o resultado na semana passada, já com 97% das cédulas apuradas.
O resultado é, porém, considerado fraudulento pela oposição e por alguns países como os Estados Unidos, que reconheceram a vitória do opositor ao regime.
O estudo da AltaVista desmente o resultado apresentado pelo CNE. Aponta, em vez disso, que González obteve mais de 66% dos votos, e Maduro, 31%.
O trabalho, conduzido por pesquisadores da Universidade de Michigan (EUA) e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e de uma instituição da Venezuela cujo nome foi mantido em sigilo, foi feito a partir da análise de quase mil atas de votação recolhidas por voluntários no dia da eleição.
A carta divulgada pelo grupo de acadêmicos nesta quarta tem como objetivo mobilizar a comunidade internacional a apoiar o povo da Venezuela e promover uma transição pacífica e democrática.
Ela é assinada por nomes como os americanos Francis Fukuyama, que cunhou a ideia de que o término da Guerra Fria representaria “o fim da história”, e Steven Levitsky, coautor de “Como as Democracias Morrem”, além dos brasileiros Maria Hermínia e Matias Spektor e de muitos outros.
“Como acadêmicos dedicados ao estudo da democracia e da integridade eleitoral, estamos profundamente preocupados com as implicações [da crise atual] para o futuro da Venezuela e com a violência generalizada e a repressão após as eleições”, afirma o documento.
“Condenamos a resposta brutal das forças de segurança, que resultou em inúmeras mortes e centenas de prisões. Exigimos total transparência e responsabilidade na contagem dos votos.”
O texto ainda lembra que a maioria dos países da América Latina condenou a falta de transparência do regime de Maduro e cobram a divulgação dos dados da votação de modo que possam ser checados de forma independente. Cinco países da região inclusive reconheceram a vitória de González.
A carta dos acadêmicos pode ser lida e assinada por outros apoiadores neste link.
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QUEM ASSINA A CARTA
Alberto Diaz-Cayeros
pesquisador sênior do Centro para a Democracia, o Desenvolvimento e o Estado de Direito, da Universidade Stanford (EUA)
Beatriz Magaloni
professora de ciência política da Universidade Stanford (EUA)
Cristóbal Rovira Kaltwasser
professor da Pontifícia Universidade Católica do Chile
Francis Fukuyama
diretor do programa de mestrado em relações internacionais da Universidade Stanford (EUA)
Jennifer Cyr
professora e diretora da pós-graduação em ciência política da Universidad Torcuato Di Tella (Argentina)
Julieta Suarez-Cao
professora de política da Pontifícia Universidade Católica do Chile
Kati Marton
ex-diretora e atual integrante do conselho do Comitê de Proteção a Jornalistas
Kenneth Roberts
professor de sistemas de governo na Universidade Cornell (EUA)
Larry Diamond
pesquisador sênior da Instituição Hoover, think tank ligado à Universidade Stanford (EUA)
Laura Gamboa
professora da Universidade Notre Dame (EUA)
Maria Hermínia Tavares
professora emérita de ciência política da USP, a Universidade de São Paulo (Brasil)
Maria Victoria Murillo
diretora do Instituto para Estudos Latino-Americanos e professora de ciência política e relações internacionais na Universidade Columbia (EUA)
Matias Spektor
professor de política e de relações internacionais da Fundação Getulio Vargas (Brasil)
Michael Albertus
professor da Universidade de Chicago (EUA)
Pedro Telles
professor-adjunto da Fundação Getulio Vargas (Brasil) e pesquisador sênior na London School of Economics (Reino Unido)
Simon Cheng Man-kit
ativista honconguês e ex-analista de comércio e investimento do Consulado-Geral do Reino Unido em Hong Kong
Steven Levitsky
professor de sistemas de governo e diretor do Centro David Rockefeller para Estudos Latino-Americanos da Universidade Harvard (EUA)
Susan Stokes
professora de ciência política da Universidade de Chicago (EUA)
Tulia Falleti
professora de ciência política da Universidade da Pensilvânia (EUA)

Fonte: FolhaPress

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