Data Mercantil

Maré do mercado brasileiro está prestes a mudar, diz JPMorgan

Estrategistas do banco citaram fatores que podem dar ânimo para o mercado após período de overshooting

Vem aí um período de alívio para o mercado? Na véspera, o Ibovespa subiu 0,70% e o dólar caiu 1,71%, voltando a operar abaixo de R$ 5,60 (movimento que se segue nesta quinta-feira), após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar que a responsabilidade fiscal é um compromisso de seu governo e que o país jamais será irresponsável nessa área. Além disso, havia grandes expectativas pela reunião de Lula com ministros, que ocorreu após o fechamento do mercado.

No fim do dia, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que Lula determinou que o governo cumpra com o arcabouço fiscal a qualquer custo e autorizou sua equipe econômica a cortar gastos públicos para cumprir a legislação e ajustar cadastros de benefícios sociais. O ministro disse que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.

Overshooting chegou ao fim?

Desta forma, analistas avaliam os possíveis desdobramentos sobre o mercado. A equipe de estratégia do JPMorgan aponta que, pela primeira vez desde maio, a maré parece estar perto de mudar: os preços atingiram o território de overshooting (desvalorização descolada dos fundamentos da economia, especialmente com relação ao real), há alguma distensão (ou seja, diminuição de tensão) na narrativa e o apetite pelo risco está ressurgindo das profundezas com a possibilidade crescente de um corte de juros pelo Federal Reserve em setembro.

A mudança em questão também contempla, segundo o banco, que o Executivo atue em uníssono para se comprometer com as metas fiscais e fazer algo a respeito, ou, pelo menos, ganhar tempo.

“Ontem à noite, o anúncio do ministro da Fazenda de que R$ 25,9 bilhões serão cortados do orçamento de 2025 e que cortes orçamentários ocorrerão durante a revisão orçamentária de 22 de julho foram nessa linha. Neste momento, pensamos que há bom potencial no mercado nos próximos meses, especialmente se a desinflação continuar nos EUA”, avalia a equipe de estratégia.

O banco não aponta ver a situação atual como de compra nas quedas, mas muito mais de acompanhar a recuperação do mercado assim que ela começar, considerando que o mercado está muito fraco, barato e subestimado neste momento, com os locais detendo grandes posições de caixa e com resgates consideráveis ​​de estrangeiros em todos os meses deste ano.

Sobre o câmbio, “o movimento descomunal de queda do real parece desvinculado dos fundamentos, e as avaliações agora estão atrativas”, avalia. O modelo do banco mostra o real quase 7% barato do que a média histórica. Portanto, embora a visibilidade futura permaneça baixa, a configuração tática mostra que os ativos brasileiros estão prontos para um alívio.

O JPMorgan também nota que a depreciação recente de cerca de 16% esteve completamente em linha com todos os quatro episódios de depreciação pós-Covid, sendo que a valorização depois disso foi normalmente da mesma magnitude da depreciação.

“Nossa previsão do dólar para o final do ano é de R$ 5,10 e, embora pareça improvável olhando para os níveis atuais, representa apenas uma valorização de cerca de 8% (considerando o fechamento de quarta-feira) ou metade da desvalorização observada este ano”, aponta a equipe de estratégia.

Em relação a uma eventual intervenção no real, os estrategistas de câmbio do banco americano observam uma maior chance em caso de continuidade do enfraquecimento da moeda frente os pares dos mercados emergentes. Por outro lado, o sucesso da intervenção seria questionável na ausência de um caminho concreto para melhorar a situação fiscal. “Normalmente, o Banco Central intervém para reduzir a volatilidade ou se a moeda está tendo um comportamento extremamente diferente dos pares, como acontecia até 2 de julho. Embora a intervenção seja realizada exclusivamente pelo BC, existem mecanismos nas mãos do Ministério da Fazenda para conter a fraqueza do real. Especificamente, o governo poderia emitir um decreto para aumentar o imposto sobre transações de derivativos cambiais, que hoje é de 0%. Ainda assim, Haddad disse que uma mudança no IOF não está no radar neste momento”, avalia.

Sobre o fiscal, as despesas no ano passado cresceram 11,8% em termos reais (excetuando precatórios), enquanto o aumento permitido das despesas é de 2,5%. O déficit primário acumulado hoje é de R$ 64 bilhões e a meta é de R$ 0. Portanto, algo deve ser feito.
“A noite passada foi o primeiro passo nessa direção, com Haddad reafirmando o compromisso do presidente em cumprir as metas fiscais. De acordo com os nossos economistas, devemos esperar o anúncio de um congelamento orçamental de R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões em 22 de julho e medidas do lado das despesas – como uma revisão aprofundada dos benefícios, que aumentaram substancialmente. Isto é especialmente um problema nos benefícios da segurança social, que aumentaram 11,76% em termos reais nos últimos 12 meses”, aponta o banco.

“Acreditamos que, embora o otimismo deva ser um tanto contido em relação à implementação e eficácia, pelo menos a conversa está agora em um caminho muito mais construtivo”, reforça.

Para o mercado de ações, o JPMorgan avalia que está barato, pontuando algumas questões: 1) embora o Ibovespa tenha registrado ganhos recentemente (fechando na quarta na máxima em seis semanas, superando os 125 mil pontos), o banco pensa que ainda há demasiado risco na curva de juros (precificando mais de 150 pontos-base de alta das taxas básicas nos próximos 12 meses), que uma vez ajustada (pelo menos parcialmente) deverá contribuir para mais ganhos de mercado e 2) o MSCI Brasil está sendo negociado a 7,9 vezes o múltiplo do preço sobre lucro (P/L) em doze meses, a níveis atrativos.

Outros três pontos a ser considerados são: 3) os atuais níveis de múltiplo supõem que os lucros irão diminuir 20% este ano, o que também parece excessivo. Algumas correções poderão ocorrer considerando as enchentes no Rio Grande do Sul, o clima quente no inverno enquanto que, por outro lado, os preços das matérias-primas estão melhores e um dólar mais fraco poderia ajudar os exportadores. 4) O Brasil está negociando com desconto de 30% para mercados emergentes, enquanto o desconto habitual é de 10% e 5) apenas 3 em cada 10 setores negociam com prêmios em relação aos mercados emergentes: industrial, discricionário e de saúde. E apenas dois setores negociam a um preço superior frente a sua média de 10 anos (TI e Serviços Públicos).

O JPMorgan também aponta ter uma visão mais “agnóstica” sobre os setores. Em meados de maio, o banco apontou que recomendou aos investidores que obtivessem exposição a ações que beneficiassem de um câmbio, além de serviços públicos e financeiros. “Embora continuemos a gostar desta temática, somos mais agnósticos em termos de setores e pensamos que se deve olhar para ações que estejam baratas e que tenham um bom crescimento de lucros”, avalia o banco.

O banco selecionou ações que estão sendo negociadas no patamar ou abaixo de um múltiplo de 10 vezes o P/L esperado para 2025 e que têm boas expectativas de lucros. Além disso, fez um estudo com ações que estão nas mínimas no acumulado de 52 semanas e aquelas com as maiores quedas no período e com recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) pelo JPMorgan. Fazendo um filtro para as ações que estão em seu portfólio, o JPMorgan cita: Localiza (RENT3), PRIO (PRIO3), Porto (PSSA3), Suzano (SUZB3), Lojas Renner (LREN3), Energisa (ENGI11), Vale (VALE3) e Raia Drogasil (RADL3).

Fonte: InfoMoney

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