Data Mercantil

Por que o Ibovespa só cai em agosto se o Copom cortou juros? Saída de estrangeiro com realização e movimento técnico explicam baixa

No mês que marcou o corte da Selic pelo BC, benchmark da Bolsa não sabe o que é subir – analistas destacam o que esperar

O início do ciclo de corte de juros no Brasil era apontado pelo mercado com um catalisador de alta para a Bolsa, especialmente se as reduções viessem em um ritmo maior. Pois bem, no início deste mês, o Copom “surpreendeu” a maior parte do mercado e cortou a taxa Selic de forma mais agressiva, em 0,5 ponto porcentual, para 13,25% ao ano.

Dessa forma, o novo ciclo de corte dos juros começou em um ritmo superior ao previsto inicialmente. No entanto, ao contrário do que se esperava, a Bolsa reagiu negativamente, desde então, e já emenda nove sessões consecutivas de queda, fazendo com que o mês de agosto seja apenas de perdas e acumulando retração de 3,18% no período.

Uma sequência como essa de derrotas do principal índice da Bolsa não se via há 25 anos, segundo dados do TradeMap. Nesse período, a Bolsa havia caído por nove pregões seguidos apenas em fevereiro de 1995 e em agosto de 1998.

Por trás desse movimento duas possíveis explicações surgem. A primeira delas é a saída de dinheiro estrangeiro, que se “antecipou” ao movimento do Banco Central de corte de juros e “realizou lucros”. Outro está na análise técnica, já que o Ibovespa disparou 27% desde o patamar mínimo deste ano registrado em março.

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Bolsa: estrangeiro em retirada

Conforme os últimos dados disponibilizados pela B3, em agosto, até agora, o investidor estrangeiro sacou R$ 6,284 bilhões, de forma líquida, do mercado secundário da Bolsa. Como comparação, em julho, ou seja, antes do movimento de corte do Copom, o estrangeiro havia ingressado com R$ 7,107 bilhões.

Dessa forma, entre o início deste mês e o dia 9 de agosto, o saldo líquido positivo de dinheiro gringo na Bolsa ao longo 2023 evaporou de R$ 24,8 bilhões para R$ 18,5 bilhões.

O resultado da Bolsa, em agosto, só não é pior porque houve a contrapartida do investidor pessoa física, que ingressou com R$ 2,371 bilhões, e do institucional, que aportou R$ 3,568 bilhões.

Movimento técnico

Outro fator que ajuda a explicar a queda da Bolsa é o movimento técnico. Entre o seu menor patamar de fechamento do ano, em 23 de março (aos 96,9 mil pontos), e o mais alto, em 25 de julho (nos 122,8 mil pontos), a Bolsa disparou cerca de 30%.

Gráfico diário da Bolsa: março a agosto/2023

Fonte: Clear Trader

Para Enrico Cozzolino, head de análise da Levante, o Ibovespa enfrenta o grande teste da “resistência” – região de preço, de acordo com a análise técnica, que geralmente atrai vendedores – dos 120 mil pontos. “De fato, houve uma grande euforia pré-Copom, com entrada de dinheiro gringo”, disse ele.

Neste momento, avalia Cozzolino, há uma mescla de “realização” por parte do investidor estrangeiro, após “precificar” o corte do Copom, o que ajudou na valorização “expressiva” do Ibovespa dos 100 mil para 120 mil pontos.

Ao mesmo tempo, após essa realização acumulada de agosto, o índice se encontra em importante ponto de “suporte” – que, diferente da resistência, atrai compradores, ainda conforme a análise técnica.

Ibovespa lateralizado

Por mais que as perdas por nove pregões consecutivos assustem os investidores, o analista técnico da XP, Gilberto Coelho, ressalta que a queda se resume a pouco pouco mais de 3%.

Como comparação, em 1995, quando a Bolsa fechou em queda por nove sessões, a desvalorização acumulada somou 27,39% e, em 1998, a 23,06%, de acordo com o TradeMap.

“O Ibovespa fechou (sexta) no nono pregão seguido de baixa, mas não foi uma grande queda nesse período, de pouco mais de 3%. Mas é uma série bem ruim para o investidor”, resume Coelho, da XP.

Para ele, o Ibovespa pode buscar mais quedas [confira no gráfico abaixo], caso perca o “suporte” dos 117.400 pontos, podendo levar o índice aos 115.700 pontos ou 111.700 pontos.

Fonte: InfoMoney

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