Data Mercantil

Petlove avalia IPO em Nova York em reabertura de mercado

Uma retomada no apetite de investidores por ofertas iniciais de ações (IPOs), com precificações menos comprimidas por juros, pode colocar em marcha o plano de duas companhias do segmento pet de estrear em bolsa – tirando da Petz o posto de única companhia brasileira do setor listada. O IPO está nos planos de Petlove e Cobasi, mas num cronograma sem pressa diante do atual cenário.

Na Petlove, a estimativa é que uma listagem possa ocorrer daqui a dois ou três anos. Se dependesse só da empresa, a abertura de capital até poderia ocorrer antes: a Petlove já se sente preparada do ponto de vista de governança e controles financeiros para um IPO, mas o contexto macroeconômico global complica. “Este ano achamos difícil”, disse Talita Lacerda, CEO da Petlove, ao Pipeline.

Segundo a executiva, o IPO poderia ocorrer tanto na B3, onde a ação da Petz é negociada, quanto em Nova York, um destino cada vez mais frequente para empresas brasileiras de tecnologia. Mas o fato de a companhia ter sede nas Ilhas Cayman seria um facilitador para se listar nos Estados Unidos.

“A Petlove tem uma pegada mais tech e estrutura societária que permitiria a empresa abrir capital na bolsa de Nova York, onde o processo é mais rápido e a oferta não precisa ser tão grande”, diz Ricardo Bahiana, sócio da B2R Capital, empresa de assessoria financeira especializada em M&A e valuation.

Fundada em 1999 pelo médico veterinário Márcio Waldman, a Petlove começou a despertar o interesse de investidores institucionais em 2011. De lá para cá, o e-commerce recebeu rodadas de investimentos de fundos como Riverwood, Kamaroopin, Softbank e Globo Ventures. Além disso, em 2021, a Porto Seguro comprou 13,5% da companhia, que incorporou o plano de saúde Health for Pet que a seguradora já tinha, rebatizando o serviço para Petlove Saúde.

Capitalizada, a empresa fez aquisições que ajudam a posicioná-la como empresa verticalizada, numa estratégia semelhante à da Petz, que quer ser o principal ecossistema do setor. Em 2020, comprou a Dog.Hero, plataforma de hospedagem para animais de estimação, e, em 2022, a Nofaro, startup que oferecia plano de saúde.

Com essa aquisição e a transação com a Porto Seguro, a Petlove já atende 140 mil vidas, com atuação em15 estados e preços que variam de R$ 49,90 a R$ 299,90. A CEO vê grande potencial de crescimento desse serviço tanto na venda direta para tutores como na venda corporativa, como parte do pacote de benefícios oferecidos pelas empresas aos funcionários.

“A penetração desse mercado no Brasil é de 0,3% da população de pets, enquanto nos Estados Unidos é de 2,5%”, compara a executiva. A Petz, que tem a própria rede de clínicas, a Seres, está criando o seu plano de saúde do zero. É um desafio: a Petland teve que rever a estratégia do produto, depois de se frustrar com os resultados.

Bahiana ressalta que o mercado de cuidados para pet é ainda muito fragmentado no Brasil – as clínicas regionais e pet shops de bairro representam quase 50% do mercado – e somou faturamento de R$ 61 bilhões em 2022, o que abre espaço para consolidação do setor.

Em 2018, o grupo Mars, dono das marcas de ração Pedigree e Royal Canin, adquiriu a rede de hospitais PetCare, mostrando que os estrangeiros também estão de olho nesse segmento no país. Desde então, o grupo tem sido um assíduo consolidador do mercado de saúde veterinária, tendo concluído mais de 12 aquisições de hospitais e laboratórios veterinários.

Mas, apesar da demanda em expansão em tudo o que se relaciona ao mundo pet, os juros altos limitam o poder de compra da população e as companhias que têm exposição ao e-commerce têm ainda mais dificuldades porque precisam fazer pesados investimentos em logística, para fazer entregas rápidas e de baixo custo, ressalta Bruno Jucá, também sócio da B2R Capital.

Acostumada a ser a queridinha dos investidores entre opções de varejo na bolsa, a Petz começou a sentir a pressão nas ações e no balanço. A margem Ebitda, de 8,8%, está pressionada pelos custos para abrir mais lojas e pelo aumento da participação das vendas digitais, que têm preços mais competitivos.

Desde o IPO, em setembro de 2020, a ação da Petz acumula queda de 62%. No quarto trimestre do ano passado, a empresa reportou queda de 32,6% no lucro líquido ajustado em relação a igual período de 2021.

O quadro também fez outra empresa do setor rever as ambições de uma listagem no curto prazo. Principal concorrente da Petz com sua rede de lojas, a Cobasi fechou 2022 com faturamento de R$ 2,6 bilhões, com lojas em 16 estados brasileiros e no Distrito Federal.

A companhia, que recebeu R$ 300 milhões do fundo da Kinea em 2021, também tem crescido via aquisições e, em 2022, comprou a rede nordestina Mundo Pet, dobrando a presença na região. Ao Pipeline, a Cobasi afirma que o IPO segue no radar, mas ainda não há uma definição de data.

Para Bahiana, o fato de a Petlove ter mais serviços (com a Dog.Hero e o plano de saúde) tende a reduzir a dificuldade de abrir capital, em comparação à Cobasi, que tem receita mais dependente da venda de produtos.

Com a operação que tem hoje, a Petlove espera alcançar um faturamento de R$ 1,5 bilhão em 2023, quase três vezes o que somou em 2020 – mas ainda menos da metade do reportado pela Petz no ano passado.

Neste ano, a companhia originada no e-commerce reduziu custos e enxugou o quadro de funcionários, ficando mais conservadora com novos investimentos. No momento, concentram-se em centros de distribuição e na abertura de lojas físicas na região metropolitana de São Paulo – são seis lojas na capital paulista e devem chegar a 10 até o fim de 2023.

Não significa, contudo, que a Petlove não esteja de olho em novos M&As. “Pretendemos continuar crescendo de forma orgânica, mas não descartamos aquisições e estamos sempre monitorando oportunidades que sejam complementares aos nossos negócios”, diz Lacerda.

Fonte: Pipeline Valor

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