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Maduro nega uso de inteligência artificial para propagar desinformação e ironiza: “Eu sou um robô”

O jornal espanhol El País divulgou que avatares criados por inteligência artificial se passam por apresentadores de televisão para divulgar informações falsas sobre a situação econômica do país

O presidente da VenezuelaNicolás Maduro, respondeu ao polêmico debate sobre as alegações do uso de inteligência artificial para propagar desinformação no país após ser questionado na quarta-feira (22).

Ele criticou a nota publicada no jornal espanhol El País que afirma que avatares criados para se passarem por apresentadores de televisão divulgam informações falsas e não confirmadas sobre a situação econômica do país sul-americano.

Maduro reagiu com ironia e garantiu que ele mesmo se tratava de um robô, enquanto imitava o movimento mecânico dos avatares.

“Eles nos acusam de sermos robôs, de não existirmos… Não, não é inteligência artificial, é inteligência popular, é inteligência revolucionária”, disse.

CNN verificou que realmente não existem tais apresentadores de televisão e que o noticiário não é real.

No site da Synthesia, uma plataforma que permite criar vídeos com inteligência artificial, a CNN identificou Andy, Thomas e Emma como avatares que estão disponíveis para qualquer usuário que queira criar conteúdo.

Esses três avatares são os mesmos que aparecem nos vídeos sobre a suposta recuperação econômica da Venezuela e que foram publicados pela House of News, uma suposta agência de notícias que parece ter uma conta no YouTube desde 26 de janeiro deste ano.

CNN tentou, mas ainda não conseguiu entrar em contato com os responsáveis ​​pela conta. Também não está claro quem está financiando a campanha.

Da mesma forma, a CNN entrou em contato com a Synthesia para saber mais sobre este trabalho e se um dos seus clientes é o Governo da Venezuela. Não houve resposta.

CNN também perguntou ao governo venezuelano se há relação com esses vídeos, mas até agora eles não responderam.

Avatares criados por meio de inteligência artificial se passam por apresentadores no canal do YouTube “House Of News Español”. / Reprodução/ House Of News Español

Os vídeos, que falavam da suposta recuperação econômica da Venezuela sem citar números, viralizaram nesta semana e aumentaram as preocupações de jornalistas e especialistas sobre o uso de inteligência artificial para espalhar propaganda e desinformação em um país com um sistema muito fraco de mídia independente.

Por exemplo, a ONG Caçadores de Fake News explicou que vídeos com avatares virtuais geram muito mais confusão.

“Primeiro, cria-se uma fonte falsa, uma agência chamada ‘House of News’, que não é um telejornal, mas finge ser. E cria-se também uma âncora falsa para dar credibilidade. São práticas comuns para desinformar”, acrescentou o diretor Adrián González.

Por sua vez, o coordenador da coalizão C-informa, Andrés Cañizales, garantiu em entrevista à CNN que fazer esses vídeos “não é excessivamente caro, nem excessivamente difícil, nem excessivamente demorado”. Ele disse que é uma ferramenta que agora está ao alcance não apenas dos governos, mas de qualquer outro que tente espalhar desinformação.

A diretora editorial da platafroma de checagem factchequeado.com, Tamoa Calzadilla, afirmou que o que se vê é um aperfeiçoamento nas técnicas de desinformar e que isso não é nada além de “deepfake”.

Calzadilla descreveu como “uma manipulação por meio de técnicas digitais, como inteligência artificial, para criar imagens em movimento com áudio e personagens que não são reais, mas são mostrados como tal para confundir e enganar o público”.

Na opinião de Víctor Amaya, diretor do jornal Tal cual e Espaja.com, esses tipos de campanha “colocam mais ruído no debate público na Venezuela”.

“Se uma pessoa não pode confiar em nada que acontece nas redes, então ela não confia em ninguém. Nem nas mídias mais consolidadas, nem nas que são novas”.

A história dos avatares Andy, Thomas e Emma fala sobre a recuperação econômica da Venezuela. Esse otimismo contrasta com os relatórios da Ecoanalítica. Em janeiro deste ano, segundo a empresa, houve queda de 17,5% no índice de volume de vendas em relação ao mesmo mês de 2022.

Fonte: CNN

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