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Produtos da Amazon estão nos vigiando: empresa divulga novidades em evento

Amazon revelou uma longa lista de atualizações de produtos antes da temporada de compras de final de ano


Um aparelho de TV que sabe quando você está dentro ou fora da sala. Um gadget que monitora seu padrão respiratório enquanto você dorme. Uma ferramenta melhorada da assistente de voz que destaca apenas o quanto sabe sobre sua rotina diária.

Em um evento exclusivo para convidados da imprensa na semana passada, a Amazon revelou uma longa lista de atualizações de produtos antes da temporada de compras de final de ano.

As novidades parecem concebidas para inserir ainda mais os seus dispositivos e serviços em todos os cantos das nossas casas com o objetivo aparente de tornar tudo um pouco mais fácil. Mas o evento também foi um lembrete do quanto muitos produtos da Amazon estão nos vigiando.

Durante eventos anteriores, a Amazon (AMZN) causou um certo espanto com exemplos alarmantes de produtos de vigilância, incluindo drones e o Astro, o robô parecido com um cachorro que patrulha a casa.

Em 2022, no entanto, os avanços da Amazon (AMZN) no acompanhamento das rotinas diárias foram um pouco mais sutis.

O novo dispositivo de monitoramento do sono Halo Rise, por exemplo, fica sobre o criado-mudo e registra a respiração e os micromovimentos de uma pessoa enquanto ela dorme sem a necessidade de usar um monitor de sono no pulso, por exemplo. Diz-se que o dispositivo funciona mesmo se a pessoa estiver virada para a outra direção, ou coberta por travesseiros e cobertores.

Na nova tela inteligente Echo Show 15, a assistente de voz da Amazon, Alexa, pode apresentar uma rotina matinal para a pessoa cumprir em casa, fornecer atualizações de calendário e destacar relatórios de trânsito para o trajeto para o trabalho.

Também existe a opção de pedir à Alexa que desligue as luzes até 24 horas no futuro, para o caso de você não estar em casa.

Além disso, a Amazon também continua expandindo as funcionalidades do Astro. Agora, o robô consegue detectar os rostos dos animais de estimação da casa e transmitir vídeos para os donos quando estes fora de casa.

O robô também pode garantir que as janelas e as portas estejam fechadas e fazer uma varredura mais profunda quando o proprietário está afastado, bastando fazer uma assinatura de um serviço de vigilância virtual.

A Amazon está longe de ser a única empresa de tecnologia que oferece produtos que monitoram os usuários ou coletam dados com a promessa de mais conveniência, produtividade e segurança.

Mas, talvez mais do que qualquer um dos seus concorrentes, ela criou uma ampla linha de produtos e serviços que, possivelmente, vigiam ainda mais as nossas vidas diárias nas nossas casas e arredores.

Nos meses anteriores ao evento de lançamento de produtos, a Amazon fez dois grandes anúncios que podem ampliar seu alcance em nossas vidas. No mês passado, a gigante fechou a negociação para comprar a iRobot, a empresa por trás dos populares aspiradores de pó automáticos Roomba (que conta com alguns modelos que criam mapas do interior das nossas casas).

Ela também anunciou planos para expandir o alcance no mercado de cuidados de saúde ao adquirir o One Medical, um serviço de cuidados primários para seus membros.

No processo, a Amazon vai testando o nível de conforto dos clientes com quanto qualquer empresa deve saber sobre nossas vidas. Ao mesmo tempo, ela pode estar também mudando nossa tolerância ao tema.

Amazon / REUTERS/Brendan McDermid

Jonathan Collins, analista da consultoria de inteligência de dados ABI Research, disse que o escopo e a abrangência das ofertas de consumidores da empresa podem ser uma preocupação para alguns, mas muitos podem simplesmente aceitar a troca por pura conveniência.

“Em geral, as atitudes negativas dos consumidores relativas à coleta de dados de uma casa inteligente e em outras áreas são bastante atenuadas pelos serviços que os clientes recebem em troca”, afirmou.

“Mesmo que não seja explícito, existe uma desvantagem entre serviços gratuitos ou com preços mais baixos e o compartilhamento e coleta de dados que suporta a disponibilidade deles”.

Stephen Beck, fundador e parceiro de gestão da consultoria cg42, afirmou que as opiniões dos clientes “permanecerão provavelmente inalteradas após o evento da Amazon porque itens como um televisor, um alto-falante inteligente ou um monitor de sono são familiares e não representam ameaças óbvias e novas à privacidade”.

A Amazon tem um histórico de ser flagrada colhendo dados de usuários sem que os consumidores saibam. Em 2019, surgiram relatos de que a empresa estava gravando trechos de conversas de usuários da Alexa que às vezes eram revisados por humanos. Após a reação negativa causada pela revelação, a Amazon alterou as suas definições para que as pessoas pudessem optar por não permitir a gravação.

Para os seus produtos mais recentes, a empresa afirma no seu website que o Astro foi concebido para detectar apenas a palavra de ativação escolhida e não armazena nem envia áudios para a nuvem, a menos que o dispositivo detecte a tal palavra.

Estado norte-americano alega que a multinacional de tecnologia bloqueou a concorrência de preços e, consequentemente, violou leis antitruste / 25/04/2022 REUTERS/Brendan McDermid.

O site também destaca que os dados do sensor que o Astro utiliza para navegar em casa são processados no próprio dispositivo e não enviados para a nuvem, e que o robô apenas transmite vídeo ou imagens para a nuvem quando está usando uma funcionalidade como o Live View (Visualização ao Vivo).

Entretanto, o dispositivo de monitoramento de sono Halo Rise encripta os dados recolhidos e guarda-os na nuvem, de acordo com a empresa. Os usuários podem fazer o download ou excluí-los posteriormente.

A questão é mais profunda. A implementação contínua de produtos que podem monitorar os clientes em diferentes graus surge numa altura em que muitos norte-americanos têm mais razões para estarem atentos à coleta de dados dada a mudança do cenário jurídico em torno da legislação do aborto.

Os especialistas em direitos digitais alertaram que os históricos de pesquisa das pessoas, os dados de localização, as mensagens e outras informações digitais poderiam ser utilizados por agentes da lei que investigam ou que processam casos relacionados com o aborto.

“O perigo do rastreamento nunca foi tão claro”, alardeou Albert Fox Cahn, fundador e diretor executivo do Projeto de Supervisão de Tecnologia de Vigilância e membro da Faculdade de Direito da NYU. “Pouquíssimos clientes pensam em como as informações que fornecem às empresas podem ser utilizadas indevidamente por governos, hackers e muitos outros atores”.

Embora algumas das funcionalidades recentemente anunciadas (como o monitoramento de portas e janelas por parte do Astro) possam ter por objetivo ajudar as pessoas a se sentirem mais seguras em casa, Cahn teme que tais atualizações aparentemente pequenas também impulsionem as pessoas ainda mais para o ecossistema da Amazon.

“Felizmente, mesmo que você consiga ensinar novos truques para um cão robô velho, revertendo o ditado americano, não dá mudar um fato: continua sendo assustador”.

Fonte: CNN

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