Data Mercantil

O que defende uma rede de empreendedores para o próximo governo

Documento elaborado pela Endeavor define as pautas prioritárias para o empreendedorismo e inovação no país nos próximos anos

Um documento aberto elaborado pela rede de apoio ao empreendedorismo Endeavor reúne as principais pautas defendidas pela organização nessas eleições, de olho na melhoria do cenário de inovação do país nos próximos anos.

O documento, chamado de Agenda Endeavor 2022, questiona o baixo crescimento e aumento da desigualdade, que travam o desenvolvimento socioeconômico, e propõe caminhos para minimizar os desafios estruturais para que empreendedoras e empreendedores possam impactar positivamente o país.

As pautas foram definidas a partir de conversas com empreendedores acelerados pela rede — em 2021, as mais de 300 scale-ups aceleradas pela Endeavor geraram juntas R$ 24 bilhões de reais em receitas e mais de 79 mil empregos diretos no país — além das contribuições da área de Advocacy da Endeavor, fundada há quatro anos.

Os temas também foram aprofundados com base em consultas com especialistas e análise de mais de 30 estudos de 13 organizações nacionais e internacionais, como Banco Mundial, OCDE, IPEA, OIT, Fórum Econômico Mundial, ONU, McKinsey Global Institute e Insper.

A agenda será disponibilizada para todos os candidatos à presidência da República e também gestores de políticas públicas e formadores de opinião.

“A Endeavor entende que políticas públicas são essenciais para a construção do futuro do empreendedorismo e da inovação no Brasil e que o poder público e o ecossistema de empreendedorismo precisam trabalhar em conjunto para resolver os problemas complexos que hoje o país enfrenta”, afirma o documento.

O que defende a Endeavor

Com propostas que buscam criar condições para colocar o país no mapa global da inovação e fomentar o desenvolvimento do ecossistema de empreendedorismo no país, a Agenda Endeavor 2022 está estruturada em três pilares:

Segundo Camilla Junqueira, diretora geral da Endeavor, os três pontos são frentes de atuação comuns à Endeavor há anos, mas que surgem como destaque em 2022 a partir de conversas mais recentes com empreendedores e empresas aceleradas nos últimos meses. “São assuntos que a gente se propôs a se especializar, dar mais atenção”, diz.

Na frente de tributação sobre o consumo, a proposta central é a de reduzir a complexidade tributária do país. Atualmente, o Brasil figura entre as cinco piores nações do mundo em relação à distorção causada pela tributação na concorrência entre empresas, ou seja, a complexidade afeta o desempenho de negócios de diferentes portes, que gastam recursos para cumprir com as obrigações e conformidades tributárias, ao invés de inovar.

Endereçar isso consiste numa Reforma Tributária extensa — um tema quase tão complexo quanto o de tributação em si.

No geral, o que a Endeavor pauta é um sistema mais simples, com menos minúcias. Um exemplo está na criação de alíquotas mais simplificadas, menos divisões entre setores e até mesmo redução de benefícios fiscais —  algo que, na avaliação da rede, não surtiu o resultado positivo esperado com sua implementação. “Queremos que o empreendedor possa colocar sua mente e esforços em inovar, ao invés de pensar em como se adequar a todos esses requisitos”, diz Marina Thiago, gerente de advocacy da Endeavor.

A rede também defende a implementação do único tributo sobre bens e serviços (IBS), já adotado em 170 países do mundo.

Diversidade

Do lado da diversidade, a Endeavor defende a criação de ações de promoção à inclusão não apenas dentro da rede, mas também nas empresas aceleradas, com enfoque especial em recortes de gênero e raça, explica Camilla. “É um trabalho cada vez mais profundo internamente. É o certo a se fazer, seja pelo impacto econômico ou social”.

Além de ações que fomentem a diversidade da porta para dentro nas companhias, a rede também destaca a necessidade de melhoria no acesso à desigualdade capital, especialmente por mulheres e pessoas negras no país. “Em comparação com outros países, o Brasil está atrasado na aproximação com fundos e outros subsidiadores de empresas de inovação. Temos que mudar esse cenário para avançar “, diz Marina.

Uma das ações para isso está na criação de mecanismos de crédito inclusivos por bancos públicos ou também por instituições privadas que podem romper com esse tipo de barreira.

As executivas também destacaram a necessidade de uma mudança de paradigma mais profunda no que se refere à percepção dos governos quanto ao perfil de empreendedores carentes por crédito.

Até hoje, segundo elas, há uma ideia limitada do poder público sobre o perfil desses empreendedores. “Hoje, há uma visão de que apenas microempresários precisam de linhas emergenciais ou crédito para crescer e estruturar o negócio. É preciso olhar também para empreendedores mais maduros”, diz. “O destaque está em olhar para todas as fases de crescimento dos negócios, e como é possível levar o suporte a empreendedores de uma forma mais aberta”, diz.

Mais empregos em tecnologia

Em uma última frente, a Endeavor defende o direcionamento de ações de empregabilidade com foco no mercado de tecnologia.

Com a pandemia, o assunto recebeu um novo tom. Empresas migraram a mão de obra para o digital, e a nova flexibilidade também fez surgir um novo perfil de profissional, mais adaptado às tecnologias e consequentemente, mais requerido pelas empresas.

Trata-se de uma mudança em curso. Até 2025, 97 milhões de empregos serão gerados no mundo em decorrência das novas tecnologias e consequente divisão do trabalho, pelas projeções do Fórum Econômico Mundial.

No entanto, o cenário no país não é tão positivo, visto que a demanda não acompanha o número de formações profissionais na área. As projeções indicam uma lacuna de 530.000 vagas de tecnologia não preenchidas até a data.

“Em cada conversa, em cada mentoria, esse é um assunto comum a todos os empreendedores. A ausência de profissionais capacitados tem hoje uma relevância bem maior do que imaginávamos”, diz Junqueira.

Uma oportunidade a ser explorada, segundo a Endeavor, é expandir as vagas no ensino técnico e superior em tecnologia, além de conectá-lo ao mercado de trabalho. Hoje, o aluno, apesar de adquirir conhecimento técnico, ainda não se sente capacitado para chegar ao mercado de trabalho. “Temos incentivado essa conexão, e a conexão entre o ensino público e as próprias empresas, que podem desenvolver seus negócios com esses talentos”, diz.

Fonte: Exame

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