Data Mercantil

Na Natura, o fim do sonho global pode ser um alento

Companhia brasileira pode desmembrar negócios em três, concentrando a atuação na América Latina com Natura e Avon

Ao desistir do sonho global que começou há uma década, com a aquisição da australiana Aesop, a Natura &Co pode estar dando um alento aos investidores que sofreram perdas massivas com as ações da empresa ao longo do último ano, a despeito dos primeiros sinais negativos do mercado.

Nesta terça-feira, os papéis da companhia voltaram a mergulhar, caindo de mais de 6% na esteira de uma reportagem publicada pelo site Capital Reset sobre os planos da Natura &Co para concentrar os negócios na América Latina, abandonando sua plataforma global. O conselho de administração da Natura se reúne a partir de amanhã para discutir a reorganização.

De concreto, a companhia já sinalizou um corte drástico nos gastos da holding. Quando fez a primeira teleconferência de resultados no comando da Natura &Co, Fábio Barbosa disse ter identificado medidas, que incluíam demissões, capazes de reduzir as despesas da holding em 40%.

“A holding estava ficando pesada”, disse o CEO na ocasião, frisando que não havia decisões sobre as quatro grandes marcas do grupo (Natura, Avon, Aesop e The Body Shop).

Para um gestor comprado em Natura, mexer na estrutura das grandes marcas é fundamental para melhorar o retorno do ativo. Sendo assim, a reação das ações no pregão de hoje e os últimos relatórios mostram que sell side está “perdido”, com recomendações que ainda pareciam descoladas do momento.

Ao contrário do que pode parecer, argumentou um gestor do Leblon, a concentração dos negócios na América Latina é a melhor decisão que poderia ser tomada, com potencial para recuperar parte do valor perdido. Desde o auge em 12 de julho de 2021, quando a holding chegou a ser avaliada em R$ 84 bilhões, os papéis da Natura derreteram 74%, fazendo mais de R$ 60 bilhões desaparecerem.

Se é verdade que a Natura cometeu — e reconheceu — vários erros no processo de integração com a Avon, notadamente na remuneração das consultoras de vendas, também é fato que o processo de correção de rota já está em curso, com sinais de recuperação nos resultados na América Latina.

O que explicaria, então, a sangria desatada na bolsa? Um dos argumentos é a dificuldade na comunicação com o mercado, o que atrapalha a visibilidade dos analistas sobre os negócios. Mas isso também começou a mudar com a contratação de Barbosa como CEO e a troca da área de relações com investidores. Helena Villares, que cobria consumo no sell side do Itaú BBA, foi contratada em julho.

Para um investidor, todos os problemas da Natura estariam mais do que precificados — até exageradamente. Quando ele faz as contas pelo método da soma das partes, a companhia parece estar barata, especialmente num momento em que o management indica que poderá desmembrar o negócio para criar (ou recuperar) valor. “A ação está barata, consideravelmente barata. Potencialmente, pode valer o dobro do que está aí”, disse outro gestor.

Num relatório divulgado ontem à noite, os analistas do BTG Pactual reconheceram que a venda de ativos pode ser um gatilho para um movimento de recuperação dos papéis da Natura, mas ponderaram que a história ainda é muito “binária” e dependente de uma bem-sucedida reestruturação.

Fonte: Valor Pipeline

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