Quando entrou no governo Bolsonaro como o superministro da Economia, Paulo Guedes tinha sonhos faraônicos. Dizia-se capaz de modernizar a República, adequar o tamanho do Estado, vender R$ 1 trilhão em imóveis e mudar a cara do Brasil. Em quatro anos, pouco, ou quase nada, foi feito nesse sentido. Agora coube ao ex-posto Ipiranga voltar a fazer promessas que seduzam o mercado. Essa tática foi escolhida por Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil. Ele deu ao Chicago Boy a incumbência de trazer de volta para Bolsonaro os votos perdidos na Faria Lima e em outros centros empresariais. E assim tem sido. Nas duas últimas semanas Guedes encontrou pessoas importantes do setor financeiro, com destaque para o presidente de um grande banco tradicional e para o dono de uma fintech. O objetivo foi explicar como a economia será conduzida em um segundo mandato.
Mas a carta branca que o mercado deu em 2018 parece que não vai se repetir em 2022. E são dois motivos para isso. Primeiro porque Bolsonaro ainda não deixou evidente que reconduzirá Guedes ao cargo de comandante da Economia nacional em caso e reeleição e, ainda que o faça, não é garantido que as ideias de Paulo Guedes serão realmente ouvidas. Segundo porque o ex-presidente Lula tem usado o seu vice, Geraldo Alckmin para se aproximar justamente deste pessoal.
Mas para se aproximar deste perfil de eleitor, Guedes foi preparado para ouvir. Entre as demandas apontadas por executivos do sistema financeiro estão algumas regulamentações para o mercado de ações, em especial mais clareza sobre eventual taxação de dividendos e definições sobre os impostos atrelados aos fundos de investimento em construção.
E, como um aceno de boa fé, Guedes lembrou que o governo deu celeridade na regulamentação do crédito consignado para o Auxílio Brasil (elaborado e posto em operação em poucas semanas) e que deu aos bancos a possibilidade de uma nova linha de crédito para trabalhar. Apesar da parte tradicional do sistema bancário ter optado por não oferecer a modalidade de crédito, muitos bancos menores ou digitais vão oferecer o serviço para ampliar sua base de clientes. Mesmo assim, o gesto foi considerado pouco. Diferentemente de 2018, Guedes não conseguirá tão fácil o papel de fiador de Bolsonaro, e o mercado vai querer mais garantias.
Fonte: IstoéDinheiro