James Gunn conseguiu de novo. Para a Marvel, dirigiu dois filmes muito engraçados e vibrantes com heróis do segundo time da editora, os “Guardiões da Galáxia”. Agora, para a DC, ele repete a dose com “O Esquadrão Suicida”, que nunca foi um título de primeira linha nos quadrinhos.
Essa equipe de anti-heróis, que são supervilões obrigados a fazer missões para o governo americano, tem potencial de humor desde sua origem nos quadrinhos. Vale ressaltar que a DC tem heróis mais sisudos e atormentados do que a rival Marvel, e em seus gibis a turma do mal sempre ganhou mais espaço para algum lance cômico, por mínimo que seja.
O primeiro filme do “Esquadrão Suicida”, dirigido em 2017 por David Ayer, até tentou injetar deboche. Mas uma trama meio capenga e um Will Smith sem achar o tom certo como o Pistoleiro, personagem central no enredo, prejudicaram muito o resultado.
Ao que parece, a ideia da DC foi esquecer esse primeiro filme. O novo longa também se chama “O Esquadrão Suicida”, sem um número dois no título que indique ser uma sequência do trabalho de Ayer.
Do filme original permanecem em cena Amanda Waller, impiedosa e nada confiável criadora do Esquadrão, Rick Flag, o soldado sem superpoderes mas líder nas ações de campo, Capitão Bumerangue, engraçado vilão australiano em papel pequeno, e claro, Arlequina, que compõe, ao lado da Mulher Maravilha, os maiores trunfos da DC no cinema.
Gunn extrai de Margot Robbie uma Arlequina ainda mais engraçada do que a atriz conseguiu no filme anterior do Esquadrão e também em seu filme solo, “Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa”, do ano passado. Está mais louca, cruel, inconveniente e, o que parecia difícil, ainda mais bonita. E desta vez ela ganha mais desenvoltura sem que apareça na trama o seu namorado, o Coringa. Arlequina não precisa dele por perto para ser tresloucada e violenta.
Sem precisar explicar novamente como os vilões são recrutados dentro de Belle Reve, penitenciária que abriga criminosos presos por Batman, Flash e companhia, a história já pode começar com muita ação. Flag lidera um grupo novo de condenados, no qual reaparecem Arlequina e Capitão Bumerangue, para cumprir uma missão na ilha de Corto Maltese, republiqueta fictícia da América Central. Chegando lá, são recebidos por todo o Exército local em uma emboscada.
Logo Flag descobrirá que foi enviado para uma cilada. Para Waller, esse grupo é dispensável, servindo como distração enquanto o verdadeiro novo Esquadrão Suicida invade a ilha por outro lado.
Sem Will Smith no orçamento do filme, o protagonismo sobra para Idris Elba, no papel do Sanguinário. Ele é muito parecido com o personagem de Smith. É uma espécie de supervilão com código de honra e um resto de bondade no coração, dirigida a sua filha adolescente.
O novo time tem também o casca-grossa Pacificador, nome irônico para um personagem homicida, o esquisito Bolinha, vilão muito engraçado com sérios traumas de infância causados pela mãe, a adolescente Caça-Ratos 2, que herdou do pai o dom de controlar todos os ratos do planeta, e, por fim, Tubarão-Rei, ou simplesmente Nanaue, outro ponto forte do filme.
Se o primeiro “Esquadrão Suicida” tinha o Crocodilo, este também apresenta um animal predador em versão antropomórfica. Nanaue é um tubarão branco. Fortão como o Coisa ou o Hulk, tem a cabeça de tubarão em um roliço corpo humanoide coberto apenas por uma bermuda jeans tamanho GGGGG. Para completar a piada, quem dá voz ao monstrengo é Sylvester Stallone.
Nanaue é fofão, tem comportamento de criança e deve fazer muito sucesso com o público infantil. Seu boneco já é o campeão de vendas nos itens relacionados ao filme que foram lançados nas lojas de brinquedos dos Estados Unidos.
Mas quem rouba o filme é mesmo Arlequina. Ela e Flag se reúnem ao novo Esquadrão, numa missão que parecia apenas se tratar de depor um tirano, mas passa a ser um confronto com forças alienígenas. Na parte final, o grande inimigo do Esquadrão é um vilão extraído da primeira história publicada da Liga da Justiça, de 1960. Os fanáticos vão adorar o tributo a esse gibi clássico.
Piadas boas, violência explícita, um pouco de sensualidade e a ausência de cenas de muita conversa fiada entre as sequências de ação oferecem uma diversão bem próxima à dinâmica das histórias em quadrinhos.
Desta vez, o Esquadrão Suicida ganhou corpo para seguir em uma franquia cinematográfica.
Fonte: FolhaPress/Thales Menezes