Cultura
Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Obama e Springsteen batem papo como velhos amigos em novo podcast

IVAN FINOTTI – “Como viemos parar aqui?”, pergunta o ex-presidente americano Barack Obama aos ouvintes no primeiro episódio do podcast “Renegades – Born in the USA”. E quem o ajuda a responder a essa pergunta ao longo dos oito episódios seguintes é o cantor e compositor Bruce Springsteen.
“Da mesma forma que para muita gente, o ano de 2020 me trouxe um turbilhão de sentimentos”, começa Obama. “Por três anos, tive de ver um sucessor na Presidência que é diametralmente oposto a tudo o que eu acredito. E visto um país que ficava mais raivoso e dividido a cada dia. Então veio a pandemia. No meio disso, os protestos mundiais pela morte de George Floyd. Tudo isso antes de o mundo assistir a uma multidão violenta, empurrada por mentiras e teorias da conspiração, tomar a capital americana.”
O último dos oito episódios do programa foi ao ar em abril. O primeiro apareceu em fevereiro, e cada episódio dura de 37 a 48 minutos.
Apesar de o assunto ser sério, “Renegades” não é um podcast sisudo. Com bom humor, tanto Obama quanto Springsteen conversam como velhos amigos dividindo um uísque ou uma taça de vinho. “Compartilhamos uma crença fundamental no ideal americano”, resume Obama.
Há espaço para cada um contar histórias e Springsteen, de vez em quando, cata um violão e canta um de seus hits. No primeiro episódio, chamado “Our Unlikely Friendship”, nossa improvável amizade, eles contam como se conheceram e detalham um jantar na Casa Branca em que tomaram várias e Springsteen tocou piano.
Para os fãs do músico, o terceiro episódio, chamado “American Music”, vai falar mais alto. Mesmo assim, não é um programa cheio de trechos de canções, como o formato permite. Pelo contrário, é uma conversa sobre as raízes da música americana.
Em geral, o podcast é basicamente conduzido por Obama, enquanto o colega aparece mais reagindo às questões do ex-presidente. É o político que norteia as conversas, que vão tratar de racismo, dinheiro, o sonho americano, paternidade, entre outros tópicos. Poderia, no entanto, ficar melhor se Obama interrompesse de vez em quando as histórias e falas do músico, às vezes intermináveis.
“Na superfície, eu e Bruce não temos muito e comum. Ele é um cara branco de uma pequena cidade de Nova Jersey e eu, um cara negro nascido no Havaí. Ele é um ícone do rock. Eu sou um advogado e político, não tão legal quanto. E, como eu gosto de lembrar a Bruce sempre que posso, ele é mais de uma década mais velho que eu. Apesar disso, ele está bem para caramba”, diz Obama, em tom de brincadeira.
É curioso lembrar que “Born in the USA”, subtítulo do podcast e um dos maiores hits de Springsteen, de 1984, é também uma das canções mais mal compreendidas da história do rock. O refrão, que repete ad infinitum a frase “nascido nos Estados Unidos”, é confundido, mesmo por americanos, como uma afirmação patriótica e de amor incondicional ao país.
O resto da letra, no entanto –que começa com “nasci numa cidade morta/ e o primeiro chute que levei foi quando cheguei ao chão”–, descreve as dificuldades de ser um proletário americano nos Estados Unidos, indicando que a frase “Born in the USA” é uma irônica crítica social.

Fonte: FolhaPress